quinta-feira, 23 de abril de 2009

Olhares especulativos

Para o brasileiro de classe média, de nível superior, com acesso aos recursos da Informática e Internet, morador em residência bem localizada,numa boa cidade, dotada de todos recursos da tecnologia,frequentador de bons restaurantes, teatros e espetáculos, possuidor de bom veículo, com a acesso a viagens nacionais e internacionais, torna-se difícil se surpreender com novidades e atrações em suas idas ao exterior.




De fato, hoje em dia, cidades como São Paulo, são pródigas em espetáculos de nível internacional, como as melhores peças da Broodway, artistas top e pop mundiais, os principais filmes são lançados simultâneamente, exposições nos trazem os expoentes das artes e a Internet, TV a cabo e o mundo globalizado são transmitidos de imediato, a medida que os fatos acontecem.




Mesmo assim quando viajo procuro conhecer o país visitado como um nativo, procurando me misturar ao povo e sentir o país em sua integralidade, procurando abstrair novos conhecimentos e informações críticadas, conforme meu prisma pessoal.




Em meados de 2002 tive oportunidade de emprender viagem de cerca de um mês, ao Japão e China. Fiz parte da comitiva de uma empresa "joint venture" japonesa, á qual prestava serviços e assim tive oportunidade de conhecer a vida empresarial e também fazer turismo.




No Japão começamos pelo sul, na província de Kumamoto e daí fomos a Osaka, Kioto, Toquio, Yokohama e várias cidades menores, ao redor das metrópoles.




No mundo empresarial, pude notar, na empresa familiar que visitei, um sistema patriarcal, onde a vontade do presidente é suprema e todos a obedecem, indiscriminadamente.




Nosso cicerone era um diretor da empresa anfitriã, discreto até subserviente, e entre suas funções estava dirigir a van que nos conduzia, carregar nossas malas, cuidar de nossa alimentação e nos conduzir aos passeios. Interessante é que eu já o conhecia de viagem que o mesmo empreendeu em visita á nossa "joint venture", em São Paulo. Aqui foi tratado de forma "vip" e como muitos executivos orientais que vem para o Brasil, quis conhecer nossas "meninas",nossa caipirinha, participar de festinhas, comprar pedras semi-preciosas, etc. Quando estão no seu habitat, quanta diferença.




Éramos um grupo de 3 casais (incluindo o presidente de minha empresa) e uma "single".




Os horários dos trabalhadores são os mais prolongados possíveis e todos os cumprem obedientemente, não existindo o conceito, horário extraordinário. Notei que na região, á época, os empregados que conheciam informática eram super valorizados e os que se cominicassem no idioma inglês, tinham o maior conceito. Estranhei o fato, pois em 2002 o inglês já era a lingua da comunicação internacional e deveria ser fluente para muitos japoneses.




As principais atrações da provincia visitada foram um castelo construido no século XVII, um vulcão em atividade permanente, chamado Azo, do qual subimos até sua cratera e sentimos sua explosão de lava incandescente, vinda de suas entranhas. A região é prodiga em saunas naturais e visitamos uma, onde foi possível usufruirmos de suas águas.




Outra atração da cidade é um parque onde está construída uma miniatura da topografia japonesa, com seus lagos, rios, montanhas e vegetação peculiares. É muito bonito e nos propiciou participarmos de uma cerimônia do chá bastante típica.




As pessoas na rua são contidas, educadas e silenciosas.As moças vestiam-se de modo recatado, sem quaisquer tipos de minis; saias ou blusas. Arroubos amorosos entre os jovens, como estamos acostumados, também não foram vistos.




A moda na região para as jovens, era usaram vestidos sobre calças compridas e usarem sandálias, vários números maiores que seus pés e ao caminharem se ouvia um quase ensurdecedor "Plac, plac, plac".




Participamos também de uma cerimônia oficial da empresa, comandada por seu presidente, o qual nos ofertou com mimos e diplomas escritos em caractéres japoneses. Em seguida foi nos oferecido um jantar de gala, onde sentados em posição de lotus, fomos servidos por gueixas, que nos brindaram com exóticas comidas, incluindo a saldável( para eles) e cara, carne de cavalo.




Os jantares geralmente eram servidos muito cedo e tinhamos de ir direto dos passeios ou compromissos para as mesas, sem passarmos pelo hotel para um banho. Enfim no Japão como os japoneses...




Fomos de avião de Kumamoto, para nosso próximo destino, Osaka, onde aterrisamos no movimentadissimo aeroporto internacional. Era mais de 8 horas da noite e daí nos dirigimos até o aeroporto doméstico, onde nos hospedamos em hotel situado dentro de suas instalações, cujo acesso até o terminal era direto dos apartamentos, por elevador.



No restaurante local notamos algo que se tornou em praxe em todos os demais ,que visitamos. Na entrada, em vitrines especiais, estão afixidadas réplicas moldadas de plástico, dos pratos que o restaurante oferece. Evidentemente isso ocorre devido ao fato do país receber muitos visitantes, que não conhecem o difícil idioma nipônico e assim apontando o que se quer comer, o problema se resolve. Os preços estão em dollar e yens.



Isso invalida aquela piada do consumidor que não conhece o idioma do país visitado, e fica chaqualheando os braços para pedir galinha... e come a mesma coisa todo dia...



O aeroporto internacional dista cerca de 100 quilómetros do doméstico e fizemos o trajeto em van especial, que percorre todo o caminho sobre um viaduto estilo nosso conhecido minhocão .Aliás, Osaka é cortada por inúmeros viadutos similares, o que dá a cidade uma impressão futurística. Como em São Paulo, cruzamos a cidade ao nível do segundo andar dos prédios vizinhos e pudemos observar que em plena 9 horas da noite, as luzes dos escritórios estavam acesas e via-se muita gente trabalhando. Nosso guia que merece um capítulo a parte, explicou ser normal os funcionários trabalharem após o expediente, sem nada receber em troca. Isso é considerado uma colaboração especial á firma e essa participação é fator para tornar o emprego estável, com raras demissões, para quem assim procede.



Descobrimos depois que Osaka tem praticamente 3 níveis, pois além desse superior por onde correm suas vias expressas, existe um enorme sub- solo onde estão instalados muitos serviços que fazem a cidade funcionar e muita gente trabalha nesse pavimento inferior.



Nosso guia era um gerente da filial de Osaka, que foi escalado para acompanhar o grupo em sua estada em sua cidade e o mesmo se empenhou nessa missão com a garra de um samurai. Incansável, procurava nos atender em todas as necessidades e logo pela manhã estava á postos, preocupadíssimo para não cometer quaisquer falhas.


Por seu aspécto físico, postura e compenetração, ganhou do grupo o apelido de "Gafanhoto", o discípulo predileto do mestre da famosa série Kung Fu.


O transporte público no Japão é algo inacreditável. O horário de saída dos ônibus, trens, metrôs é implacável e Gafanhoto sempre nos levava em cima da hora e nunca perdemos nenhuma partida.


A parte alta da estada em Osaka foi um passeio de dia inteiro na vizinha cidade de Kioto, antiga capital imperial, famosa por seu grande número de templos budistas e shintoístas, um mais bonito que o outro, situados em locais arborizados e com lindos jardins. Fontes enfeitam o ambiente e existem vários locais para rituais religiosos.


Após as visitas aos templos conhecemos dois museus; o do leque, com as mais variadas de espécies e um dedicado a famosa cantora, falecida, que era originária da cidade. Foi uma visita emocionante.


Um fato pitoresco deu-se durante o almoço.


Fomos num típico restaurante japonês e foi-nos servida uma especie de sopa com um macarrão parecido com miojo, prato muito tradicional no país.


O grupo estava numa grande mesa e a famosa sopa foi servida em tijelas e os tradicionais paulizinhos, o qual, já estavamos acostumados a usar.


Começamos a comer quando passamos a ouvir sibilantes chupadas de sopa, "shuuuuu". Atônitos nos viramos para verificar de onde vinha tão insólito som e constatamos que partia da boca do amigo Gafanhoto. Envergonhado por ser o senhor de todas atenções, Gafanhoto normalmente amarelo, ficou imediatamente, vermelho.


Logo veio a explicação por parte do Presidente de nossa empresa. É costume no Japão, tomar sopa emitindo aquele sibilante som e Gafanhoto somente estava seguinte o costume do país. Até hoje rio quando me lembro, da esdrúxulo acontecido e do pobre desconcerto do esforçado Gafanhoto.


Despedimo-nos com grande pesar do querido amigo Gafanhoto e embarcamos para Tóquio, derradeira etapa de nossa viagem.


Chegando ao aeroporto de Narita seguimos para o centro da trepidante cidade e nos hospedamos no enorme e monumental Hotel Roosevelt, onde com exceção dos quartos, tudo é grandioso.
O café da manhã pode ser oriental ou ocidental e o primeiro tem de tudo que não costumamos comer pela manhã, desde algas, porcos, peixes crus, arroz, doces esquisitos e muito, mas muito, molho.

A cidade tem um movimento frenético e tivemos como guias um casal de jovens funcionários do escritório central da industria. Fizemos uma visita á empresa e depois fomos conhecer as grandes lojas de artigos eletrônicos, cuja variedade é de pasmar.


Para meu espanto a maioria dos vendedores não fala inglês e apesar da quantidade de artigos á venda, a coisa que mais me impressionou foi um robô cãozinho, que já havia visto numa reportagem do Fantástico.


No passeio pela cidade notei muitos pessoas entregando pequenos saquinhos contendo lenços em envelopes de propaganda, tal como acontece aqui, com os célebres entregadores de panfletinhos.


Logo constatei a utilidade dos mesmos. Ocorre que nos sanitários de Tóquio nos existem os papéis para enxugarmos as mãos, nem as indefectíveis maquinas que emitem vapor e se não transportarmos os lencinhos " é problema".


Visitamos famosa cerimônia do chá e as cercanias do Palácio Imperial, já que não é permitido chegarmos muito perto e lojas e mais lojas, onde adquirimos relógios, quimonos e souvenirs e o que mais se encontra é o gatinho com o braço levantado. Aliás, de acordo com cada braço erguido existe um significado. Verifiquei na volta que a maioria dessas compras podem ser adquiridas aqui mesmo na Liberdade, inclusive a preços melhores.


Os jovens na rua são mais moderninhos e se vê muitas jovens com cabelos coloridos. Em todo local o japones tem em mãos sempre um moderníssimo celular, que serve para todas as necessidades, até para a comunicação.


Interessante é que na porta de algumas lojas existem caixas contento centenas de aparelhos descartados, quebrados ou fora de uso, que os turistas recolhem avidamente, para depois sem dúvida descarta-los, pois ninguém, em sã consciência, irá colocar nas bagagens tanta tranqueira.


Impressiona em Tóquio o sistema de transportes, pontual e sempre lotado e o mais importante servindo toda a cidade e regiões. O metrô sempre cheio tem funcionários encarregados de "compactar" os passageiros. São educados e inclusive usam luvas brancas.

Numa das viagens, já embuido da civilidade nipônica, me surpreendi com um rapaz que após abrir uma chocolate, jogou o papel no chão. Com expressão de censura, recolhi o papel e o joguei no lixo mais próximo. No Japão, como os japoneses...


Durante a estada em Tóquio, tomamos um trem estilo "bala" mas não tão veloz e nos dirigimos para a região do famoso Monte Fuji. Passamos por Yokohama, grande cidade que parece em suburbio de Tóquio. Não existem separações das cidades, é tudo junto. Alí, fica o famoso estádio onde o Brasil venceu a final da Copa do Mundo de 2002. Notamos pelo caminho que praticamente todo o território japonês está ocupado. Em qualquer terreninho se vê plantações de verduras ou legumes ou mesmo túmulos formando pequenos cemitários. Por aí temos que admirar povo tão pujante e um país com tanto desenvolvimento, mesmo ser ter matérias primas, minerais, grandes produções agrícolas e pecuárias.


Dizimado pela segunda grande guerra, o país, sem esses recursos conseguiu ser a segunda potência mundial.


Chegando numa parada numa cidadezinha típica onde tivemos uma emoção diferente. Tinhamos um cãozinho, raça yorkshire, chamado Dotty, que era alegria da casa. Inclusive carregava sua foto em minha carteira, para matar as saudades. Eis que de repente, minha esposa se deparou com um simpático velhinho conduzindo um cãozinho idêntico á nossa Dotty. Emocionada, com saudades de casa, minha esposa correu para fazer festas ao pequeno animal, que imediatamente correspondeu aos agrados. Sentimos no ato a emoção do velhinho, ao ver uma senhora estranha, estrangeira, brincando com seu cãozinho e senti a fraternidade existente entre os seres humanos, quando irmanados com sentimentos comuns, no caso, o amor aos animais. Foto tirada, ainda hoje nos enche de nostalgia.
Embarcamos, a seguir, em novo trem para a subida de uma serra. A viagem é das mais peculiares, pois o trem vai subindo a serra em movimentos de zig- zag, até chegar na próxima parada. Alí encontramos restaurantes, bares, um museu de artesanato e no interior de um bosque, em cujo caminho deparamos com numerosas esculturas, está o maior museu de obras do grande pintor e escultor, Picasso, fora da Espanha.


Continuamos a subida em ônibus e chegamos até uma parada onde em restaurante típico encontramos os famosos ovos pretos, atração turística do local. Dizem que isso ocorre devido a água, que as aves consomem, vir de uma região vulcânica.


Continuando a escalada chegamos a um grande lago, situado no alto da serra, onde embarcanos em charmosos navios, estilos piratas, num passeio de beleza incomum. No trajeto tivemos a oportunidade de vislumbrar por breves momentos, o famoso Monte Fuji, um dos símbolos da nação. Fato raro, pois o famoso monte, na maior parte do tempo está coberto por nuvens.


No retorno, pernoitamos em hotel- termas típicamente japonês, onde usamos quimonos e dormimos em tatames tradicionais, no chão. Oforus e banhos termais estavam á disposição para uso dos hóspedes e a comida também seguia a tradição milenar.


Retornamos a Tóquio revigorados.


Aproveitamos os últimos dias da viagem em compras e conhecendo alguns templos, alguns com Budas imensos. Aliás, os Budas são um capítulo á parte. São representados de várias formas diferentes, gordos, magros, jovens,velhos, raivosos, e amistosos, conforme seu estado de espírito, ou representando fases de sua existência.


Registre-se que encontramos na época, também, pobres nas ruas e a Prefeitura da cidade, permite que os mesmos se recolham á noite, nas estações dos metrôs, para os mesmos se refugiarem das chuvas e temperaturas baixas.


Interessante é que em muitos locais, como Kioto, guardas- chuvas de boa qualidade, são oferecidos aos transeuntes graciosamente, quando existe mau tempo.


Ao entrarmos nos estabelecimentos, equipamentos especiais envolvem com plásticos os guarda-chuvas para não molharem esses locais. Em São Paulo, em alguns espaços, já temos semelhantes artefatos, porém, em 2002, me eram desconhecidas.



Um detalhe que me chamou á atenção nas ruas de Tóquio é a existência de uma faixa saliente para que as pessoas deficientes visuais poderem se locomover. Tempos depois notei que em alguns locais de São Paulo, como a estação do Metrô Liberdade e no Centro Cultural São Paulo essas faixas estão sendo introduzidas.


Tal como New York, Tóquio tem regiões que á noite parece dia, tal o número de luminosos que os prédios ostentam; é a marca da cidade. Um certo prefeito de São Paulo, ao ver isso por certo ficaria aflito.


Um réplica da Torre Eifeel é um ponto turístico muito visitado e devido sua altura é vista a muita distância. Lembra um pouco, Las Vegas que tem uma similar.( Todas querendo ser Paris...).


Afora os famosos hotéis cápsulas, com pequenas camas e TV, utilizados pelos japoneses, que exageram no "happy hours", após o trabalho e as salas de banho existentes em alguns sanitários.

A maior novidade encontrada, disponível em muitos hotéis, foi sdaniotário-bidê. Junto com do vaso sanitário se encontram vários botões que acionados, emitem certeiros jatos de água fria, morna ou quente, de acordo com a vontade do cliente.

"Le grand finale" de nossa viagem foi um farto jantar pela Baia de Tókio, com comida típica, bebida farta e uma interminável seção de karaokê. Foi muito bonito ver a cidade á noite, navegando com as estrelas. E um gosto de quero mais...


Devido a grande colonia japonesa existente na capital paulista, inclusive com bairros típicos da colônia, como a Liberdade, com seus portais típicos, como já foi dito, não encontramos muitas novidades na Matriz. Aqui existem centenas de restaurantes especializados na cozinha oriental, muitas lojas vendem seus produtos, karaokês estão espalhados, academias de artes marciais, escolas de idiomas, do ensino do bonsai, escrita, dobraduras, etc, estão por toda parte. Festas típicas são frequentemente organizadas como a das cerejeiras em flor, das estrelas, do ano novo e o festival anual das províncias. Exposições de orquideas são um espetáculo, á parte.


Para trazer á nossa cidade ficam algumas ideias.


Por que não enriquecer nossa cidade, a exemplo do Japão, com a criação de novos museus, homenageando nossos grandes representantes, que já nos deixaram, e aqui eram radicados como as célebres cantoras Elis Regina, Isaurinha Garcia e tantas outras. Acervo para tanto, não faltam.

Outra ideia é a criação de um Memorial do Automobilismo, que poderia ser instalado perto do Autódromo de Interlagos. Tivemos muitos campeões como Senna, Emerson, Piquet, sem contar com outros pilotos de grande categoria que disputam ou disputaram as Fórmulas 1 e Hindy, como Pacce, Wilsinho,Cristian, Castroneves, Rubinho, Nelsinho, etc, além de alguns pioneiros, como Landi e Barberis.

Carros antigos utilizados, capacetes, macacões, filmes, fotos, etc, poderiam ficar ali expostos e tenho certeza que visitantes não faltariam, nacionais e estrangeiros, já que o brasileiro é fã de carteirinha, desse esporte.

Finalmente algum empresário poderia trazer e adaptar em nosso país, os confortáveis sanitários bidê, tão ao gosto dos nipônicos. Acredito que os bons hoteis, restaurantes finos, clubes e mesmo residências poderiam aderir a essa comodidade, que poderiam ser aperfeiçoadas, dotando-as de dispositivos asséticos para melhor higienização das águas, bem como tornando-as perfumadas, aromizando-se assim, o ambiente. A emissão de ar quente poderia completar o equipamento e o usuário, saíria satisfeito com o conforto usufruido.



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