quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Dirceu

Costumo frequentar a missa das 9 horas, aos sábados, na Igreja São Judas Tadeu. Essa missa é dedicada aos falecidos de sétimo dia e demais mortos, conforme oferta das famílias desejosas em homenagerar seus entes queridos, desaparecidos.
No final da cerimônia o padre ofertante costuma chamar um representante de cada família que planteia seu parente falecido na última semana. O padre entrega então uma mensagem de conforto ao enlutado.É simples e tocante.
Conforme escala interna os padres se revezam nesse ofício sabatino.
Periodicamente o escolhido é um sacerdote, já idoso, que em seu sermão costuma usar uma mensagem pessoal, no sentido de confortar os parentes ainda inconformados com a grande perda.
Após o início de sua fala quando evoca o evento religioso que se comemora na data, dá seu depoimento pessoal, mais ou menos nos seguintes termos; " Venho de uma família do sul muito religiosa e unida. Há poucos anos, meu pai já com idade avançada, faleceu repentinamente, deixando minha mãe e irmãos desolados com essa perda inesperada. Tive que ás pressas que me deslocar de São Paulo para o interior de Santa Catarina, para a pequena cidade onde se realizou o sepultamento.
Como sacerdote e filho mais velho tive que consolar meus familiares e principalmente minha mãe, que não se conformavam com a perda e lamentavam a ausência, dizendo que ele poderia viver mais tempo, e ver seus bisnetos crescerem.
Respondí então : Minha mãe, será que a vontade de papai é voltar? Ele que já se encontra no reino de Deus, gozando da companhia do Senhor não estará num lugar bem melhor? Somos egoísta em querer sua presença aqui, ele que nos deu tanto e merece estar em paz e harmonia, no Paraiso.
Devemos nos conformar com sua ausência e nos alegrar com sua nova situação, na certeza que quando chegar a nossa vez, termos a ventura de reencontrá-lo."
Meus parentes ante minha ponderação, refletiram e aceitaram a perda com resignação e a grande tristeza se transfomou numa saudade querida.
Há alguns anos me aposentei e nos "check ups" anuais que costumo fazer, fui mais uma vez cobrado da necessidade de fazer exercícios e caminhadas para me manter saudável, além de uma alimentação sadia.
Com mais tempo, procurei a Igreja Nossa Senhora da Saúde, próxima de minha residência, a qual fui informado que mantinha um excelente programa de cursos e atividades físicas, para as chamadas pessoas da terceira idade. Alguns até chamam de Melhor (?)Idade.
Alí fui muito bem recebido e iniciei minhas atividades num grupo de Alongamento. Logo notei que nesses grupos predominava a maioria massiça de mulheres. Algumas eram viúvas, mas a maioria alegava que seus maridos tinham preguiça, eram tímidos ou preferiam frequentar os botecos para as indefectíveis partidas de dominó.
Um dos poucos componentes de meu grupo, masculino, era um senhor magro, de estatura regular, muito simpático e receptivo que logo grangeou minha amizade. Seu nome, Dirceu.
Aos poucos fomos batendo alguns papinhos após as aulas e descobrí que Dirceu, trabalhou em empresas por muitos anos no ramo contábil-financeiro. Se aposentou ao descobrir um greve problema em seu coração, tentou trabalhar numa banca de jornais que montou e posteriormente passou a se cuidar, tendo conseguido atendimento no Intituto Dante Pavanezzi, do qual tecia referências as mais elogiosas.
Falava com grande carinho de sua família, constituída da esposa e de um único filho.
Dirceu era muito disciplinado nos exercícios, assíduo e dedicado.
Levado por ele passei a dedicar a outras atividades. Tai Tchi Chuam, auto massagem. Éramos a dupla masculina nesses eventos.
Às vezes, Dirceu faltava a algumas aulas e preocupado logo telefonava para o amigo e era informado dos seus problemas de saúde. Melhorando, Dirceu, logo voltava.
Em alguns anos Dirceu foi companheiro em palestras , num curso semanal de filosofia e nas festas juninas da Igreja.
Na rua o encontrei algumas vezes, quando conheci sua família.
Por razões famíliares, deixei por um tempo de frequentar os eventos da Igreja e ao me inscrever num curso de alemão, tive o prazer de encontrar Dirceu como colega de turma. Tinha inclusive a função de coordenador do grupo. Infelizmente algum tempo depois, Dirceu deixou o curso e perdemos o contato por mais de um ano.
Nesta semana, passando perto da Igreja, encontrei nossa professora de filosofia e após os cumprimentos de praxe, ela me perguntou, com expressão de pesar. Soube do Dirceuzinho?
Prevendo o pior, perguntei. Ele faleceu?
Ao que ouvi, a confirmação fatídica.
_Faleceu dormindo, durante o carnaval. E como consolo, " pelo menos não sofreu".
Na semana passada mandei oficiar missa em intenção á sua alma na Igreja São Judas, mas a saudade é grande e quero acreditar nas palavras do Padre Agusto, de que Dirceu está num lugar melhor, no Paraíso, ao lado do Senhor.
À familia do amigo Dirceu, meus sinceros sentimentos.


Nesta semana