quarta-feira, 27 de maio de 2009

a acolhedora São Paulo

Faço parte da população paulistana, embora seja apenas paulista, pois vindo do interior, sou um dos milhões que essa abençoada cidade acolheu, desde os idos de 1554, quando foi fundado o Colégio de Jesuítas,pelos missionários Nóbrega, Paiva e Anchieta, que deu origem á atual metrópole.
De fato, desde áquela remota época, a então vila foi recebendo moradores de origem colonizadora portuguesa e indígena, cujo símbolo foi Tibiriça, considerado o primeiro paulista, mais os jesuítas de Inácio de Loyola.
Aos poucos foram nascendo os primeiros paulistas, que deram origem ás tradicionais famílias quatrocentonas, a seguir, vieram os negros sob o regime vergonhoso da escravatura e indios escravizados pelos bandeirantes, que se aventuravam pelo interior do país, em busca de riquezas e os traziam para trabalhar em suas propriedades.
O tempo foi passando e pequenas vilas foram sendo criadas em várias regiões da atual cidade, entre os rios Tamanduatei, Anhangabaú e Tietê.
A população foi aumentando, aos poucos e com o advento das leis de proteção aos escravos e posterior abolição da escravatura, a solução encontrada, foi a abertura da imigração a povos da Europa, assolada por grande crise econômica, sem possibilidade de alimentação e conforto, para tanta gente.
No início, a maioria de imigrantes que por aqui aportaram, foram de origem italiana, experientes na agricultura, que foram trazidos ás fazendas do interior, para substituir a mão negra, e assim suprir a absorvente cultura do café,nossa então, principal riqueza,tão carente de mão de obra.
Ocorre que muitos desses italianos, tinham experiência em manufaturas de sapatos , roupas, ou tinham profissões como barbeiros, alfaiates, sapateiros, ou ainda tinham espírito empreendedor e não estavam a fim de se submeter á dura vida do campo, nos cafezais do interior.Como se dizia, vieram "Fazer a América"...
Foram, então, aos poucos, se radicando na capital da província e montando suas oficinas, pequenas fábricas e se estabelecendo em suas profissões. Muitos, ainda não qualificados, passaram a trabalhar como operários nas novas fábricas, que foram surgindo em grande proporção.
No início do século XX, São Paulo tinha cerca de 20 mil habitantes e a maioria era constituída de italianos.
São Paulo, com essa pequena população, passou a ser também, uma cidade de estudantes, pois com a criação da Faculdade de Direito, jovens de todo país para aqui acorreram e passaram a ter grande influência na vida da cidade.Muitos pensadores, escritores e poetas, como Castro Alves, Fagundes Varela, Alvarez de Azevedo,etc, passaram a fazer parte da inteligência paulistana.
Começaram a vir imigrantes de outras nacionalidades, atraídos pelo progresso da cidade, como espanhois, portugueses, libaneses, alemães, inclusive ,porque a primeira guerra mundial devastava o chamado, Velho Mundo.Foram aos poucos se estabelecendo como comerciantes, industriais e artesões.
A imigração japonesa, que há pouco completou seu centenário, chegou e muito contribuiu para o aperfeiçaamento de nossa agricultura em larga escala e seus filhos passaram a se destacar, também nas profissões liberais.
Brasileiros de toda parte do país, principalmente, de cidades do interior, mineiros e depois nordestinos, aqui também afluiram, atraídos por empregos,estudos e oportunidades, que a cidade passou a oferecer, cada vez em maior escala.
Assim a população foi crescendo e em 1920 era de cerca de 100 mil e em 1922, São Paulo foi alvo de uma grande revolução cultural, com a realização da Semana de Arte Moderna,no Teatro Municipal, em que escritores como Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Menocchi del Picchia, pintores como Tarcila Amaral,Rebolo, escultores,músicos, etc, colocaram a cidade na vanguarda intelectual, com repercussão mundial.
Esse crescimento desordenado e o desenvolvimento das indústrias fez com que, São Paulo, se orgulhasse, por muito tempo, inclusive ostentado nos ônibus da antiga CMTC, o slogan " São Paulo: o maior parque industrial da América Latina". Isso trouxe para a cidade, altos níveis de poluição e inutilizou o maior rio que a corta , o Tietê, com os dejetos lançados pelas fábricas e pelos esgotos residenciais.Aos poucos a cidade foi derivando sua economia para os serviços, com suas fábricas se transferindo para o interior, porém, herdou uma herança de problemas, dificil de resolver.
Passei a morar em São Paulo em 1956,e minha família aqui veio, pela mesmas razões, das demais, maiores possibilidades de emprego, estudos, melhor padrão de vida e progresso, que a cidade oferecia a seus habitantes.
A cidade então contava já com cerca de 2 milhões e meio de habitantes.
São Paulo, então cresceu mercêd do trabalho de seus habitantes, contituídos de paulistanos natos,imigrantes estrangeiros e brasileiros aqui vindos, de todas as partes do país.
Durante vários séculos foi menor e menos importante, que várias cidades, que tiveram benesses governamentais, por terem sido capitais, como Salvador e Rio de Janeiro ou sedes de capitanias, protegidas pela corte portuguesa, como Recife.Essas cidades durante muito tempo foram mais ricas, maiores e possuiam muitos prédios públicos, construídos pelas governos, por terem sido importantes na fase imperial e na primeira república.
Por isso, considero uma grande injustiça a afirmativa de muitos, que São Paulo, não conserva suas memórias e tudo destroi, em nome do progresso, ao passo que Rio de Janeiro, Salvador e mesmo Olinda, Ouro Preto, etc, conservam muitas edificações do período imperial. Esquecem esses detratores de nossa cidade, que São Paulo, até o início do século XX, era uma pequena vila, com menos de 20 mil habitantes e dessa forma, nessa fase, tinhamos, apenas o nosso histórico colégio, origem da cidade e o conservado Convento das Carmelitas, que hoje hospeda nosso admirável Museu de Arte Sacra e as relíquias do primeiro santo brasileiro, o paulista de Guaratinguetá, Frei Galvão.
Hoje, São Paulo com população fixa de quase 12 milhões de habitantes, acrescido das populações das cidades da Grande São Paulo, mais a flutuante, alcança mais de 20 milhões, tornando-se assim uma das mais populosas do mundo. Dessa imensidão de pessoas, a maior parte é constituída de indivíduos egressos de outras cidades, países e seus descendentes. Porisso se diz que São Paulo tem muito mais japoneses que muitas cidades do Japão, ou nordestinos que em todo o nordeste, mineiros que em Belo Horizonte, etc.
Numa análise ainda que perfunctória cito alguns fatores que concorreram para nossa grandiosidade, não entrando no mérito de razões econômicas ou políticas que concorreram para essa grandiosidade.
-Os fazendeiros de café que empregaram grande parte de suas fortunas em São Paulo, erguendo muitas mansões, montando negócios e transformando a Avenida Paulista num marco da cidade.
-Os imigrantes, principalmente italianos e depois japoneses, que mercê de seus trabalhos, fundaram indústrias que empregavam milhares de pessoas e introduziram a agricultura em larga escala, como os Matarazzo, Crespi, Pignatari,Lunardelli, etc.
-Os primeiros empreendedores, que proprietários de grandes extensões de terras, as lotearam, dando assim origem á maioria dos bairros urbanizados de São Paulo.
-Os ingleses que aqui vieram e com sua experiência, construiram nossas estradas de ferro, com portentosas estações,como a Luz, com seu relógio, pequena réplica do famoso Big Ben, de Londres, e abriram os caminhos para o interior e possibilitaram o escoamento de nossa maior riqueza, o café, para o porto de Santos.
-Os canadenses da Light que trouxeram o gás para a capital, introduziram a iluminação elétrica, esgotos e as linhas de bonde, modernizando, para a época, nosso transporte.
-Nossos grandes arquitetos,como Ramos de Azevedo, que absorvendo técnicas em escolas européias, construiram grandes edifícios como o Teatro Municipal, os prédios da antiga Light, os do Páteo do Colégio ( recentemente restaurados), o Palácio da Justiça e muitos outros, dando á cidade, até a década de 50, uma aparência européia.
-Alguns políticos como Pedro de Toledo, que não se curvaram á prepotência do governo federal, que queriam destruir a constituição do país e enfrentaram as tropas federais, em defesa de nossa Lei Maior, na epopéia de 1932.
-Alguns políticos visionários, como Prestes Maia, e mais tarde, Faria Lima e Olavo Setubal,entre outros, que abriram avenidas, retificaram rios, construiram metrôs e revitalizaram áreas, deixando seus mandatos com as mãos limpas.
-A introdução no Brasil da indústria automobilística a partir de 1950.
Com isso pode-se dizer que São Paulo é uma cidade extremamente acolhedora, pois recebe todos aqueles que aqui chegam com cordialidade e oferece as mesmas oportunidades, para os forasteiros e seus cidadãos natos.
Isso não ocorre ao contrário, pois, por experiência própria senti por volta de 1980 quando trabalhei em Camaçari, no Polo Petroquímico da Bahia e morando em Salvador uma determinada aversão com relação a São Paulo e os paulistas. Em pequenas coisas notava-se esse preconceito, nos programas de rádio, e principalmente nos jornais que referiam a nosso estado, ironicamente, como Sul Maravilha, com grande pontada de despeito e xenofobia tupiniquim. Os turistas não notam esse fato , pois ali ficam por pouco tempo e estão derramando divisas, para a cidade.
Nota-se grande rivalidade com o estado vizinho do Rio de Janeiro, que por muito tempo foi a cidade mais populosa, a capital do país, que recebia a maior parte dos benefícios, que o governo podia oferecer.As comunicações por muito tempo eram todas emanadas, via Radio Nacional e grandes revistas semanais como "O Cruzeiro" e " Manchete" e assim a opinião pública era formada por essas fontes.
Assim, no Brasil inteiro se acompanhava o futebol carioca e artistas e cantores só faziam sucesso nacional, quando se radicavam na chamada Cidade Maravilhosa.
Um grande compositor brasileiro, chegou a dizer uma frase que perdurou por muito tempo " São Paulo é o túmulo do samba".
A grandeza de São Paulo, com uma arrecadação que quase superava a da maioria dos demais estados, fez com que alguns políticos criassem outro slogan que atraiu a antipatia dos brasileiros, dos demais estados :" São Paulo é uma locomotiva que carrega nas costas o resto do país".Um governador ufanista da grandeza do Estado, na época que os Estados Unidos pregavam sua Aliança para o Progresso, dando uma ajuda para os países do continente americano, menos favorecidos, disse que São Paulo adotaria a mesma política, para os estados menos favorecidos, o que gerou uma repercussão negativa e ajudou a manter a antipatia nacional, contra nosso Estado.
As verbas federais que já eram escassas para nosso Estado, diminuiram e durante muito tempo São Paulo foi o único estado a não possuir unuversidade federal.Diziam que São Paulo era um estado rico e não necessitava dessa ajuda.
Isso fez que a política fosse dominada pelos demais estados, em detrimento de São Paulo, como ocorreu com a eleição de 1960, quando o então candidato por São Paulo, Adhemar de Barros, teve esmagadora vitória em nosso estado, porém, foi completamente subjugado nos demais, que suflagaram JK, ficando nosso candidato em terceiro lugar.
Até a década de 30, São Paulo e Minas Gerais dominavam a política com o acordo, " Café com Leite", e representantes destes estados se revesavam no comando do país.
A partir da década de 30 30, São Paulo, não teve mais um presidente, aqui nascido.
Outro motivo dessa aversão, é São Paulo ter sua própria empresa aérea, a VASP, o que para muitos era inconcebível, porque em caso de revolução a força aérea do Estado, estaria garantida. Criou-se inclusíve a lenda que os paulistas tinham intenções separatistas, o que nunca passou pela cabeça dos mesmos.
Assim, muitos paulistas que vão trabalhar em cidades do interior e em outros estados têm identica impressão, pois sentem que os nativos se sentem incomodados, pelos estranhos que ali estão, para concorrer com seus empregos e benfeitorias.
Hoje, pelas razões expostas, já que nossa população é formada em sua grande maioria por não paulistas, o sentimento de cosmopolitismo, aqui prevalece e todos que aqui vêm são tratados com grande urbanidade e respeito.
Infelizmente, hoje em dia muitos de nossos nossos políticos não estão á altura de nossa cidade e passam por situações que consideramos vexatórias e constrangedoras, como ocorreu no recente Panamericano, quando se constatava claramente, que o comitê olímpico trabalhava abertamente para que o evento fosse no Rio de Janeiro e nosso governador e prefeita da época, aceitaram colocar a candidatura de São Paulo, numa escolha com cartas marcadas e passaram o vexame de ver nossa cidade, fragorosamente derrotada numa decisão, mais do que prevista.Ainda tivemos que ouvir do prefeito carioca da época: " São Paulo que me desculpe, mas beleza é fundamental".
São Paulo, só não é mais pujante, porque muitos de nossos governantes amam demais suas carreiras, em detrimento do progresso da cidade e do bem estar de seus moradores.
Vejamos alguns fatores que concorrem para esse estado de coisas:
- descontinuidade administrativa - raramente um governante continua as obras iniciadas na gestão anterior, principalmente se a mesma for de exercente de outro partido. No mínimo deixam as obras paradas por algum tempo até que a população "esqueça" o trabalho da anterior e depois a prosseguem se possível com outro nome. Um exemplo gritante é o famosos Fura Fila, carro chefe da campanha de um prefeito.Na nova administração, continuou, depois de bom tempo, com modificações, com outro nome.Com o novo prefeito,que cumpriu parte do mandato, já que era vice, passou a se chamar Projeto Tiradentes, foi inaugurado parcialmente e após sua reeleição, já como prefeito, tivemos o anúncio que o projeto seria, novamente modificado, depois de sua conclusão, já ter sido anunciada.
- Falta de cooperação entre governos municipal, estadual e federal, quando os mandatários são de partidos rivais.
-Alguns prefeitos como Olavo Setubal iniciaram um programa de revitalização do centro, com foco em ruas sem trânsito,os chamados "calçadões", reforma de prédios, etc.
Depois de um "vácuo" administrativo, a prefeita anterior reformou e revitalizou alguns edifícios históricos como o complexo do Páteo do Colégio, o atual resolveu acabar e recuperar a região da chamada "cracolândia". Obras demoradas e com a consequência daquela vergonha de nossa cidade ,apenas ter mudado de lugar, tornando deteriorado mais um espaço da cidade.
-A falta de fiscalização que permite que áreas situadas limítrofes ás represas sejam ocupadas, tornando praticamente insolúvel o problema de preservação de nossas reservas de proteção ambiental.
-Falta de política uniforme para nosso caótico trânsito. A solução metrô , uma das mais adequadas sofreu paralização em várias administrações, desde quer o prefeito Faria Lima, na década de 60, corajosamente começou a enfrentar o problema. O cúmulo foi quendo o então Prefeito Figueiredo Ferraz, iniciou as obras do importante metrô da Avenida Paulista e após algum tempo as obras foram paralizadas e somente retomadas muitos anos após, já com novo projeto, tornando inviável tudo o que foi feito anteriormente.
Quando mudei para São Paulo, adolescente em 1956, já que falava na construção de um anel viário circundando a capital paulista, para evitar que caminhões pesados, transitassem por dentro da cidade, apenas para pegar outras estadas ou seguir para o litoral. Desafogaria o trânsito já caótico da cidade, diminuiria a poluição e melhoria o nível de vida dos cidadãos. Hoje, mais de meio século depois, esse anel após muitas administrações, ainda está muito longe de ser concluido.
Jânio Quadros e vários outro prefeitos sugeriram que iriam construir vários estacionamentos subterrâneos a fim de resolver um dos maiores problemas da capital. O de Jãnio, seria sob o vale do Anhangabau. Infelizmente, pouco foi feito e o problema continua crucial. O mesmo prefeito anunciou a urbanização limítrofe das marginais do Rio Tietê, com a construção de praças floridas, parques e outras melhoriais. Nada foi feito.
A recuperação de nossos rios, principalmente o Tietê, que seria despoluido e tornado navegável, inclusive com transporte urbano, a exemplo do Sena em Paris, foi outro carro chefe de vários governadores. Um deles, eleito para ser o seguidor de outro, que disse que o elegeria nem que fosse para quebrar o Banco do Estado, conseguiu financiamento japonês e afirmou que iriamos tomar água potável do Tietê, antes do ano 2000.Só se ele tomar e quiser se suicidar...
A Prefeitura que estava no Palácio das Indústrias no Parque Dom Pedro, foi transferida para a Praça do Patriarca num prédio, antiga sede dos Matarazzos, depois sede de uma Loja, depois Banco do Estado. Local a meu ver também inadequado, pois quando movimentos de protesto resolvem se instalar em frente da Prefeitura, o local fica intransitável e o pior, muito perigoso.No antigo Palácio das Industrias seria instalado um museu, o que estamos aguardando até hoje.
A própria iniciativa privada anuncia obras, contando com apoio público, que sem nos atermos ás reais intenções de bastidores, trariam melhorias para a cidade, quer em aspéctos urbanísticos, quer em aspéctos turísticos.
É o caso da torre que seria erguida na região do Pari, que revilitaria aquela área da cidade e se tornaria um polo comercial importante , a exemplo das Torres de Toronto, da Malásia, Taiwan, etc.Depois de muito "blá, blá , blá", o projeto foi cancelado.
Épocas passadas foi a anunciada a construção de um monumento dedicado ao Santo que empresta o nome á cidade em seu ponto mais elevado , o Pico do Jaraguá. Sem dúvida, seria uma obra que aumentaria o turismo da capital, como ocorre com as cidades que possuem obras similares. Também ficou no esquecimento.
A construção do trem bala unindo São Paulo ao aeroporto de Viracopos e Guarulhos e principalmente a ligação São Paulo- Rio é outra promessa várias vezes anunciada e nunca cumprida.
Com o anúncio da Copa de 2014, muitas dessas obras voltam a ser anunciadas e bilhões devem ser gastos, com a promessa de particpação em grande parte da iniciativa privada e muita obra de infra estrutura deve ser feita,para a realização de campeonato de tão grande porte, principalmente depois que os países mais desenvolvidos realizaram as suas e se espera que no Brasil uma Copa de idêntico brilhantismo.
Nosso receio é ocorra o mesmo do Pan do Rio, onde se prometeu grande particpação privada, que não veio, o orçamento estourou de maneira estratosférica, muitas das construções foram abandonadas e a conta ficou para o contribuinte brasileiro, tão carente de educação, saúde e segurança.
A briga fiscal entre a cidade e outros municípios e mesmo entre outros estados faz com muitas empresas passem seus endereços para cidades vizinhas ou transfiram suas instalações para outros estados, visando o pagamento de menores impostos, acarretando
grande perda de recursos para São Paulo.
Apesar desses fatores negativos a pujança de São Paulo é muito grande e continua a ser a principal metrópole do país e por aqui afluem grande número de visitantes, pelas mais diversas razões:
- Nossa rede hospitalar é a maior e melhor aparelhada do país e dessa forma paulistas de todas as cidades e brasileiros de todos os estados e mesmo estrangeiros recorrem a São Paulo visando seus tratamentos de saúde. Diariamente hospitais como s das Clínicas, São Paulo, Servidores Municipal e Estadual e mesmo os particulares, recebem numerosas ambulâncias das mais variadas cidades, trazendo doentes para serem atendidos nessas entidades.
- Feiras e convenções: semanalmente são realizadas as mais variadas feiras, convenções, seminários, etc, em nossos numerosos centros de eventos, com grande afluxo de visitantes, de todas as origens.É a maior fonte de turismo continuo e de negócios do país.
- São Paulo tem a maior rede hoteleira do país com mais de 42 mil leitos e oferece
condições especiais de preços para o turista nos fins de semana.
- A vida noturna de São Paulo é a maior e mais variada de atrações com vários pontos
de atração.
- Possui milhares de restaurantes de todos os níveis com comidas regionais e internacionais, atendendo todo os mais exigentes consumidores.
- Eventos como a corrida de Fórmula UM, Parada Gay (a maior do mundo), Bienais,Casa Cor,desfile de Carnaval, Virada Cultural,Maratona, Corrida São Silvestre, São Paulo Fashion Week. etc, trazem grande número de visitantes procedentes de todas as partes.
- A cidade possui excelentes salas cinematográficas, as mais modernas, mais de 100 teatros em pleno funcionamento, salas para música erudita como a São Paulo,São Pedro
e Municipal, sempre em atividade e com grande afluência de público.
- Grandes salas de espetáculos mantem suas atividades com atrações nacionais e internacionais, inclusive com os maiores sucessos da Broodway, como O Rei Leão, A Noviça Rebelde, Os Miseráveis, Miss Saigon, Chicago, etc.
- Grandes artistas internacionais frequentemente incluem São Paulo em suas tourneés, as quais superlotam estádios, sambódromo e grandes salas de espetáculos.
- Grandes centros comerciais como a Rua XXV de Março, José Paulino, Maria Marcolina e adjacências no Brás, são locais de enorme procura para a compra de produtos a preços condizentes.
- Grandes entrepostos de produtos agrícolas como Ceagesp, Cantareira e principalmente Mercado Municipal, são procurados diuturnamente pela população.
- Eventos étnicos como Festival do Japão, das Estrelas,Ano Novo Chinês, festa de ano japonesa, são intensamente visitados pela colonias e povo em geral.
- Festas religiosas como de São Genaro, Nossa Senhora da Aquiropita, São Vito batem recordes de participação.
- Ruas especializadas em determinados negócios como: elétricos e eletrônicos, na Rua Santa Efigênia, ferragens na Florêncio de Abreu, lustres na Consolação,móveis na Teodoro Sampaio,etc, são intensamente procuradas.
-Centros culturais como: São Paulo, Banco do Brasil,Itaú,Fiesp,Caixa Econômica Federal,Nossa Caixa,Faap, etc, sempre oferecem atrações interessantes.
-Museus como: MASP ( o mais importante da América Latina),Histórico do Ipiranga( com seus jardins inspirados em Versalles), Arte Sacra, Pinacoteca, MAM,Casa Brasileira,USP,Ibirapuera,do Futebol, etc., nada ficam a dever aos melhores do mundo.
-Feira étnicas como:Japonesa no Largo da Liberdade, Boliviana ( Vila Maria),artesanais, Praça da República,Praça Benedito Calixto, Embu das Artes, etc., atrem muitos turistas semanalmente.
Parques como Hopi Hari ( Jundiaí),Play Center,Ibirapuera,Aclimação, Vila Lobos,Trianon, Luz,Buenos Aires,Água Branca, Wild`nt it, etc., também são muito visitados.
-Templos de várias religiões como Catedral de São Paulo,São Bento,Messiãnico( Interlagos)Seicho no ie,Cotia ( Budista), Itapecirica ( Budista), Mesquita (Moóca),Sinagoga (Higienopolis),candombrés,espíritas,evangélicas, etc.atraem multidões diariamente.
Mais: jardim Zoológico,Língua Portuguesa ( complexo da Luz), Memorial da América Latina,Sambódromo,Hipódromo Cidade Jardim,Horto Florestal,Jardim Botânico,Parque de Animais ( antigo Simba Safari),Butantã,Casa das Tradições Nordestinas ,Memorial do Corinthians,São Paulo,etc., engrossam as muitas atrações da cidade.
A vida noturna paulistana é considerada uma das melhores do mundo, com centenas de diferentes atrações, para todos os gostos, e se inicia no horário em que as similares das principais cidades européias estão terminando.
A menos de uma hora da cidade estão lindas praias, desde sofisticadas como Guarujá, até mais populares como as de Santos, cuja orla ostenta aquele considerado o maior jardim do mundo.
Assim os milhões de visitantes que afluem anualmente a nossa cidade, pelas mais diversas razões, encontram atrações de todos os interesses e bolsos.
Em recentes reportagens em jornais e revistas é atestado tudo o que aqui foi escrito, justificando São Paulo como "acolhedora cidade".
- Aeromoças de vária empresas nacionais e estrangeiras aqui fazem escala e se hospedam por pelo menos um dia na cidade, até retomarem suas atividades profissionais.
Na reportagem todas se declaram encantadas com São Paulo e suas inúmeras possibilidades de lazer e outras atividades e lamentam o pouco tempo passado na metrópole. Se encantam com nossos restaurantes étnicos, principalmente o sistema de alimentação por quilo, desconhecido para elas, mas aprovado indiscutívelmente. Nossas lojas de roupas e artezanatos, shoppings,ruas de comércio popular como XXV de Março,José Paulino, etc, são intensamente procuradas, atraídas pelos preços e variedades. Parques como o do Ibirapuera são também "points" disputados por elas.
-Noutra reportagem vimos que não somente nossos hospitais públicos são procurados por visitantes de todo o Brasil e de países vizinhos e as ambulâncias são para muitas cidades o principal recurso médico.
Vimos também que nossos hospitais de ponta são muito procurados por estrangeiros de países de primeiro mundo, como Estados Unidos, Canadá, Inglaterra, etc, atraídos pela excelência dos tratamentos e custos bem menores, do que em seus países de origem.
- Centenas de modelos, expositores, visitantes de nossa São Paulo Fashion Week aqui aportam e além da categoria de nossa moda, aproveitam nossa vida noturna, restaurantes e lojas luxuosas como a famosa Deslu, as dos Shoppings Iguatemi e Cidade Jardim, da Rua Oscar Freire, etc.
- O mesmo ocorre com os turistas que aqui vêm para a Casa Cor,Parada Gay,Feiras,Congressos, etc.
- Os pilotos,mecânicos,dirigentes que aqui vêm anualmente para o Grande Prêmio São Paulo de Fórmula UM, são frequentadores assíduos de nossa vida noturna,campos de golfe,praias e pricipalmente de nossas churrascarias, onde consomem tonedadas de carne,as quais consideram da melhor qualidade.
A todos São Paulo acolhe e retribui com a maior cortezia, educação e urbanidade.
Nem tudo porém, e o chamado "mar de rosas" e São Paulo ainda tem muita coisa a ser melhorada.
- Como megalópede tem um trânsito caótico e precisa agir rapidamente para melhorar a situação construindo muitas quilômetros de metrô, novas avenidas, viadutos,trens expressos, estacionamentos e principalmente terminar o anel viário.
- A segurança precisa ser olhada com a maior atenção, com policiamento ostensivo e diuturno. Muitos locais como a esquina da central, Rua Benjamin Constant com a Praça da Sé, são alvos constantes de assaltantes á luz do dia, a apenas 30 metros de um posto policial, que nada faz para garantir a integridade dos transeuntes. O mesmo ocorre em muitos locais como a Martins Fontes, defronte á antiga sede do Jornal Estadão;o vale do Anhangabaú, perto da saída do Metrô São Bento, etc. Locais como a chamada "cracolândia",são uma chaga da capital e o policiamento se limita a olhar crianças e demais viciados, consumindo crack a qualquer hora. Mendigos e menores abandonados infestam praças, viadutos, etc, importunando a população, sem nenhuma repressão.A polícia se diz impotente devido a legislação que não permite que os mesmos sejam retirados dos locais. Nesses casos nossos legisladores devem verificar a situação e criarem leis mais condizentes, para se resolver esse grave problema.
Por que não se instalar sanatórios especializados, para o tratamento de crianças viciadas e outros para adultos com o mesmo problema.
Com tantos prédios, antigas fábricas, hotéis, abandonados por toda a cidade, não se poderia aproveitá-los, para com a devida reforma e adaptação, transformá-los em albergues para mendigos,moradores de rua e crianças abandonadas, serem tratados como seres humanos?
Outras edificações abandonadas poderiam se adaptar para o caso de catástrofes que acontecem com alguma frequência, como enchentes, incêndios em favelas, etc, e assim acolherem as vítimas, ao invés das improvisações em escolas, igrejas, etc.
Muita gente foi eleita prometendo resolver esss problemas, imediatamente esquecidos após as eleições. Clubes da Turma, albergues no centro e outras iniciativas foram feitas e esquecidas, no rodizio das administrações.
A acolhedora São Paulo precisa e merece um melhor tratamento por parte daqueles que têm a obrigação de administrá-la com amor e respeito pela cidade.
A população merece e agredece...

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Do Paratodos ao Marabá

Ainda no colo de meus pais, já frequentava as sessões de cinema,no velho Paratodos, em minha cidade natal e nunca mais parei.
Lembro-me quando as películas eram em preto e branco e as coloridas " um luxo".Já alfabetizado, fui me encantando com os prazeres proporcionados pela chamada sétima arte e me interessar pelos grandes ídolos da tela, alguns ainda do cinema mudo como o inigualável, Charles Chaplin, o Carlitos, e a dupla Laurel e Hardy, " O gordo
e o Magro.
As grandes atrações de bilheteria eram os musicais, filmes históricos e os chamados "faroeste".Ás segundas e quintas, eram dias dos seriados, passados logo após o filme.Flash Gordon, Nioka,o Principe Submarino nos seriados e Roy Rogers,Bill Elliot, Joe Mac Crea, Randouph Scott,Gary Cooper,John Wayne,Esther Willians, Dennis Morgan, Jack Carson, Bob Hope,Humphrey Bogart,Bud Abott e Lou Costelo, Betty Gable, Greta Garbo,Rita Hayworth,Bete Davis, Loreta Young,Barbara Standwich, entre outros, povoavam nossos corações e mentes.
No velho Paratodos, cabiam uma quatrocentas pessoas e muitas vezes era pequeno, pela ávidez com que os meus conterrãneos acorriam ao principal divertimento, que a cidade oferecia.
Suas poltronas, de madeira, estavam divididas em duas filas e corredores no meio e laterais, e o público de um modo geral, escolhia suas acomodações de acordo com o costume ou "tribos" a que pertencia.Como não havia ar condicionado, o calor muitas vezes,era "senegalesco".
No lado esquerdo, na metade da frente, ficavam os estudantes e casaizinhos de
namorados. Eram locais visados pelos vigilantes policiais , devido a bagunça que, ás vezes, se instalava.A punição era a escolha de uma vítima, ao léu,que era convidada a se retirar, mas geralmente "era abandonada", nas fileiras de trás.
Nos outros locais, ficavam os não estudantes, crianças,casados, namorados antigos, etc.
Na friza,na parte de trás, ao alto, se instalavam os casais de namorados ,"mais avançados", para os padrões da época.
O preço dos ingressos era barato e eu, menino "duro", como os demais, ainda conseguia frequentá-lo quase que diariamente, já que os filmes, de um modo geral eram constantemente trocados. Somente quando surgia um "blockbuster", havia duas sessões e o filme era reprisado, mais dias.
Nesse tempo, os garndes filmes demoravam bom tempo para serem exibidos no Brasil e ainda mais, para chegarem a minha cidade, São Manuel.Tinhamos referências dos mesmos pelos jornais, revistas e pelas pessoas que vinham da capital, visitar parentes no interior.
A Revista " O Cruzeiro', a de maior prestigio da época, tinha uma seção em que um critico, José Amadio, tecia suas impressões sobre filmes, ainda não chegados ao país. Esses artigos eram muito esperados, pelos amantes do cinema.
Os jornais da época não dedicavam muito espaço aos artistas ou filmes, como agora e se resumiam a noticiá-los, informando os locais de suas exibições. A saída era comprar uma revista que se dedicava a informar as últimas de Hollywood e seus filmes: Cinelândia.A corresponde estrangeira, em Holywood, para o Brasil, era a jornalista,Dulce Damasceno de Brito, amiga da grande Carmen Miranda e recentemente falecida.
Por volta de 1949, resolvi anotar num caderno, os filmes assistidos, mencionando: título, ator principal, procedência e cinema assistido. Na época, algumas vezes, era moda, se dirigir á cidades maiores, vizinhas, assistir em primeira mão, filmes de sucesso, que iam demorar a chegar em São Manuel.
Quando minha contagem estava chegando no primeiro milhar, em janeiro de 1956, minha família se transferiu para a capital e aí se inicia nova fase de aventuras cinematográficas.
Antes de começar esta nova etapa, presto uma homenagem aos cineastas, que criaram duas obras, em que mostraram todo seu amor pelo cinema, que são Cine Paradiso ( obra prima) e Cine Magestic ( nostálgica).Cito ainda dois escritores: Inácio de Loyola Brandão, que quem fui colega de Editôra Abril em 1966, na velha Álvaro de Carvalho, eu trabalhando em Recursos Humanos, ele na Revista Realidade. Loyola em recente artigo do Estadão faz uma trajetória sentimental dos cinemas de São Paulo,por ele conhecidos, desde sua chegada de sua cidade, Araraquara e o radialista, apresentador de TV, professor e historiador, Heródoto Barbeiro, que em seu mais recente livro, faz idêntica digressão de suas experiências cinematógraficas, sob seu prisma.
Tendo completado 16 anos anos, chegando a São Paulo tive então oportunidade de conviver com as famosas salas de cinema da capital, as quais conhecia apenas em sonhos.
Levados por meu pai, eu e meu irmão, fomos assistir ao filme, " Aposenta-se um marido", comédia musical no Cine Bandeirantes, no Largo do Paisandu, que depois reformado, passou a se denominar, Cine Ouro. Foi um deslumbre assitir um filme em confortáveis poltronas estofadas.
Depois, aos poucos, fui me ambientando á cidade grande, comecei a trabalhar, estudar á noite e usufruir do principal divertimento da época: o cinema.
Morando no bairro do Tatuapé e trabalhando no centro, na Praça Antonio Prado, passei a estudar num colégio estadual, no bairro da Penha. Á noite era uma verdadeira maratona, ir do centro, Praça Clovis Bevilacqua, de ônibus papa-fila ou bondes, até o longinquo bairro. Eram duas horas de grandes "martírios" em conduções super lotadas.
Aos sábados, a recompensa, era após as aulas, assistir filmes que eram exibidos nas quatro salas existentes no bairro. Todas passavam dois filmes, um lançamento e outro mais velho e assim tinhamos quase 4 horas de entretenimento e sonhos.
Todos ficavam num traçado em forma de trapézio, não muito distantes um do outro.O maior era o Penha Palace que ficava defronte ao ponto final do bonde, Cidade-Penha. Na Rua da Penha, a poucos metros, ficava o Penha Principe e cuja lembrança maior, foi vê-lo exibindo um dos filmes de maiores bilheterias, já conhecidas: "Marcelinho, Pão e Vinho", com o astro espanhol infantil, Pablito Calvo. Nas filas quilométricas se viam velhinhas e muitos cidadãos que raramente frequentavam cinema, tão grande foi o apelo, que esse filme causou na população.
Mais acima, na Rua João Ribeiro, ficava o Cine Jupiter, o de maior beleza arquitetônica, onde hoje se encontra O Shopping Penha. Próximo á Igreja nova do bairro, funcionava o Cine São Geraldo, de propriedade dos padres e onde não eram exibidos filemes proibidos.
Os estudantes de um modo geral costumavam burlar essa censura com alterações na idade,na carteira escolar, para a idade mágica de 18 anos, o que os transformava em
pequenos falsários.
Aliás, os filmes censurados para 18 anos, comparados com os de hoje, eram histórias da carochinha.Qualquer novela, peça de teatro, filme com censura livre, de hoje, são muitas vezes mais "pesados" que os daquela época, quer em matéria de violência ou de cenas de sexo.
A própria censura dos filmes nos estudios americanos era muito rigorosa e não se admitiam, inclusive, que se mostrasse camas de casal e muitas cenas cenas de sexo, que eram quando muito, sugeridas.
O filmes europeus que criaram o cinema mais realista, foram introduzindo costumes mais liberais, mas longe ainda do que se vê nos dias atuais.
Atrizes provocantes, como Brigitte Bardot, era vistas nuas, de longe e sem cenas sexuais, e certa vez, quando Martine Carol pareceu de seios de fora, por átimos de segundo,foi uma comoção.
Os filmes tinham censura livre, quando eram bem família e para 10, 14 e 18 anos conforme seus enredos, mais ou menos picantes ou violentos.
Alguns cinemas exibiam sessões para homens e geralmente mostravam casos escabrosos de doença( bem menos impressionantes, do que as já exibidas em programas tipo Ratinho) ou péssimas filmagens, em inocentes campos de nudismo.
Aos domingos os cinemas continuavam a ser as principais fontes de divertimentos dos paulistanos onde iam famílias, namorados e a população em geral.
Aos domingos e feriados costumava frequentar todos os cinemas do trajeto de minha residência até a cidade. Vindo da Penha tinhamos o Cine São Jorge, que hoje é uma loja de artigos variados. Próximo á minha residência foi anaugurado o moderno Cine Aladin, com ar condicionado, poltronas confortáveis e lugares numerados. O primeiro filme ali exibido foi: " Suplicio de uma Saudade" com William Holden e Jennifer Jones. Três quadras em frente, na Avenida Celso Garcia, ficava o mais popular, Cine São Luiz, que depois se tornou salão de forró. Interessante que na época, muitos cinemas da capital, por ocasião do carnaval, retiravam suas poltronas e se transformavam em salões de bailes carnavalescos, populares.
Ainda no Bairro, na Praça Silvio Romero ficava o Cine Leste.No Largo São José do Belém, o Cine São José.
Continuando na Celso Garcia, no Bairro do Belenzinho se localizava o Cine Iris e descendo a Rua Catumbí, havia um cinema com o mesmo nome. Além de ser muio fora de mão, para mim,não era grande coisa e me recordo de ter ido apenas uma vez, assistir ao famoso : Johnny Guittar.
O Brás, na época era um bairro efervescente e muita gente alí ia passear, comer pizza, visitar grandes lojas, como as Casas Pirani, Marabá, A Exposição,Eletroradiobrás, etc, e para variar,assistir filmes.
Grandes filas lotavam o Cine Universo, que tinha como atração o fato de nas noites bonitas e quentes, abrir seu teto para gáudio de seus frequentadores. Em frente á Igreja São João, estava talvez o mais bonito de todos, Cine Roxy, que hoje é uma igreja evangélica. Continuando na Celso, ficavam o Cine Brás Politeama, com arquitetura de teatro e o Cine Brás.
Em frente a Matriz do Brás, já na Av.Rangel Pestana ficava aquele que era conhecido com orgulho, por seus 4 mil lugares, como o " maior cinema do Brasil", o Cine Piratininga, hoje com o fim inglório de ser um estacionamento.
Na antiga Praça da Sé dois cinemas, que já tiveram seus dias de realce, Cinemundi e Cine Santa Helena.Alí perto um "pulgueiro" que ás vezes frequentava, para "fazer hora" para outros compromissos, Cine Texas.
Seguindo pela Rua Direita, o Cine Alhambra, famoso por ser frequentado por office- boys, que ali resumiam seus expedientes.
Perto da Praça João Mendes, estavam o Cine Joia e mais a frente os Cines: Niteroi e Tokio, que se destacavam por exibir filmes para a colonia japonesa.
Na Rua São Bento, o cinema de mesmo nome e nas redondezas o Ópera.
O Cine Cairo ficava em pleno Vale do Anhangabau, na Rua Formosa e perto dali na Praça do Paisandu, tinhamos o Cine Art Palácio, onde enfrentei a maior fila da minha vida para assistir: "Vinte mil léguas submarinas"; o Cine Bandeirantes, depois Ouro e o Cine Paisandu.No Largo do Paisandu do lado da Avenida São João foi inaugurado na época, o cinema mais chic de São Paulo, o Olido. Dotado de poltronas numeradas, largas e com excelente visibilidade, tela moderna.Antes das sessões o públido era brindado com execução de músicas clássicas, executadas ao vivo, por ótima orquestra. O traje obrigatório para as mulheres era o fino e para os homens paletó e gravata. Assistir as sessões do Olido era máximo de bom gosto.
Perto dali, na Conselheiro Crispiniano, ficava um dos cinemas mais bonitos da cidade:o Marrocos e na Antonio de Godoi, o Jussara, famosos por exibir os proibidos filmes franceses.
Subindo a São João tinhamos o Cine Broodway, depois farmácia do exército e em frente o Cine Ritz, depois Rivoli.
No começo da Avenida Ipiranga a atração era o Cine Windsor e após o famoso cruzamento Ipiranga/São Joãos cinemas, Premier e os famosos Ipiranga e do outro lado da avenida, o Cine Marabá.
Na Praça da República ficava o cinema que se orgulhava de sua tela, especializada para filmes em cinemascope, onde passou um maiores sucessos de bilheteria: O Manto Sagrado e depois filmes em Terceira Dimensão.
Na Praça Dom José Gaspar,na Av. São Luiz e numa galeria ao lado da Biblioteca Municipal, Mario de Andrade, ficava o Cine Metrópole, um dos melhores da capital.
Perto da Largo da Concórdia,que no centro ostentava o portentoso e infelizmente derrubado, Teatro Colombo, ficavam os Cines Rialto e Oberdã.
Na Rua Sete de Abril tinhamos o Cine Coral e continuando a São João o sofisticado Cine Metro,com filmes do estúdio de mesmo nome, cujas sessões matinais de desenhos, aos domingos. em especial de Tom e Jerry, era o "point" da criançada.
Mais á frente, na Praça Julio Mesquita, o Cine Regina.
Continuando , o famoso Cine Comodoro, com a maior tela de São Paulo que quando exibiu o filme Terremoto, provocou alvoroço e muita gente não conseguiu assistir, devido ao alto som, bem como o terror causado pela catástrofe, objeto do filme. O processo era chamado de Cinerama.O mesmo ocorreu com o filme " O Inferno da Torre".Outros filmes que causaram muito impacto na época foram " O bebe de Rosemary" e " O Exorcista".
Ali perto no Largo do Arouxe, ficava o cinema que lhe emprestava o nome.
Paralela á Avenida São João, na Avenida Rio Branco, tinhamos os cines Monaco, o Boulevard e após a Ipiranga, o famoso Cine Normandie, que exibia filmes europeus.
Por certo esqueci de alguns cinemas dessa região central da cidade, que costumava frequentar, mas os principais foram mencionados.
Um cinema, fora dessa área, da região dos jardins, ficou famoso por ter um filme ali exibido, provocado o maior tumulto entre os jovens.Trata-se do Cine Paulista e o filme era " O balanço das horas", com a banda de Bill Halley e sus Cometas. Era o início do Rock n`roll e a música mexeu com a mocidade, que praticamente destruiu o cinema.
Mais tarde, morando na Vila Mariana assisti filmes nos cinemas do Largo Ana Rosa, no Estrela do Bosque da Saúde e principalmente no Jamor, vizinho de minha residência. Este resistiu ao tempo, mas acabou vencido e hoje hospeda uma igreja evangélica.
O tempo foi passando, e primeiro o advento e progresso da televisão, foi mudando os hábitos da população que preferia ficar em casa e assistir aos programas da telinha e isso foi o início da decadência de nossos cinemas. Veio a televisão em cores, depois o video cassete e consequente lojas de aluguél de fitas, depois a rede Blockbuster e finalmente a Internet e a venda indiscrinada de fitas piratas, muitas vezes, lançadas antes do início da exibição de filmes nas salas. Todos estes fatores foram a pá de cal de nossos cinemas, que foram fechando e dando lugar para estacionamentos, lojas e principalmente, igrejas evangélicas.
Por todos esses fatores deixei de anotar os filmes assistidos, quando estava perto de dois mil, dada a avalanche dos filmes passados na TV e as séries, vistos ás duzias, por semana.
Vários acontecimentos reabilitaram o gosto do paulistano em frequentar cinemas. Primeiro foi o surgimento dos shoppings, que limpos, seguros e confortáveis, foram trazendo o público, novamente, para as salas de projeção.
Depois as redes como a Cinemark e seus cinemas múltiplos, com custos menores e alto padrão de imagem, grangeram o gosto do público e se tornaram campeões de frequência.
Outras iniciativas, como as Mostra Anual de Filmes, trouxeram legiões de fãs ao cinema, inclusive de outras cidades, para conhecerem centenas de obras de várias nacionalidades. Voltou o gosto de se assistir ótimos filmes ingleses, franceses, italianos, alemães, turcos, iranianos, israelitas, japoneses, chineses,argentinos, espanhois, mexicanos, inclusive brasileiros, que nos brindaram com excelentes e premiadas produções.Desse modo, retornou o interesse pelos festivais de cinema e premiações como o Globo de Ouro, o Leão de Ouro, de Cannes e em especial da glamourosa entrega do Oscar.
Muitos filmes de ponta são lançados no Brasil, simultâniamente com as grandes capitais do mundo e atores e atrizes famosos, aqui vêm para esses lançamentos.
Surgiram várias salas especiais para filmes de arte e ressurgiu a Cinemateca para os aficcionados, mais exigentes.
Jornais e revistas gastam páginas e páginas com notícias de cinema e a televisão também dá bastante espaço. A televisão á cabo possui canais que se especializaram em notícias e fofocas dos astros, com grande audiência.
Não esquecer que a televisão com seus aparelhos de DVD e sistemas, cada vez mais sofisticados, tipo Plasma e LCD, HD, também tem um público cativo, ávido para assistir seus filmes produzidos especialmente, e séries, de grande gabarito.
Na região da Paulista que havia perdido várias salas como o Gazeta, Gazetinha, Gazetão, o Astor e os cinemas do Center Três,como o Center e Liberty, ganhou novas e sofisticadas salas, como as do Bristol, as da Reserva Cultural,Geminis,e as do Bom Bril, no Conjunto Nacional, sendo que a 1 foi escolhida como a melhor da capital. Na Augusta, os Espaços Unibanco de um lado antes da Paulista e o Cinesesc, após, também merecem citação especial. Também as recuperadas salas do Belas Artes, merecem atenção de destaque.
Outra menção especial se refere ás novas e sofisticadas salas com transmissões 3D e outros serviços, o que aumenta o prazer desse programa, cada vez mais sedutor, para o público.
A inegável qualidade técnica dos filmes americanos com seus inigualáveis efeitos especiais, têm seu público cativo, campeões de bilheteria, mas os filmes europeus, asiáticos e latino-americanos brilham, por seus enredos bem contados e diferenciados.
Uma referência especial para a recente inauguração do Cine Marabá, que preservando sua notável arquitetura, tombada pelo patrimônio histórico, vem resgatar o centro da cidade, outrora fulgurante com sua cinelândia e hoje tão decadente.
Como sugestão para o revigoramento de nosso centro, outras salas poderiam resurgir. Como exemplo cito: Marrocos, Ipiranga,Paisandu, Comodoro e Metrópole.
Por que não se criar no Shopping Light, tão frequentado e num local privilegiado, defronte ao Teatro Municipal, um andar com várias salas, á exemplo dos outros congêneres. Tenho certeza que seria um empreendimento vitorioso, ajudaria a recuperação do centro e atrairia muitos turistas.
Como admirador da arte inventada pelos Irmãos Lumière, atrevo-me a fazer a lista dos 10 filmes, que mais marcaram minha trajetória de expectador, assiduo dos cinemas.
1 - E o vento levou - Incrivelmente lançado em 1939, permanece até hoje imbatível, por sua narrativa, da epópeia de uma família sulina, durante a guerra da secessão americana, efeitos especiais inacreditáveis, para a época da produção e atuações memoráveis de Vivien Leigh, Clark Gable e Olivia de Haviland.
2- Ben Hur - Drama histórico belíssimo e em especial com a emocionante corrida de bigas e atuação deslumbrante de Charlton Heston.
3- Um lugar ao sol -Adaptação da peça Uma tragédia Americana com um par de astros, talvez com maior identifição do cinema: Montgomery Crift e Elizabeth Taylor.
4- O Manto Sagrado - Nunca uma história religiosa foi tão em mostrada num filme. Destaque especial, para o astro Richard Burton.
5- Quo Vadis? - A historia dos primeiros cristãos e o explendor e decadência moral do Império Romano, nunca foram tão bem explorados. Destaque para Robert Taylor e Jean Simmons.
6- O Salário do Medo - Filme de poucos recursos, em preto e branco, com magistral direção de Jean Crouzot. narra a odisséia de um um motorista de caminhão carregando uma carga de nitroglicerina, numa tortuosa, precária e perigosa estrada.
7- Se todos os homens do mundo - Filme de uma sensibilidade extrema, com um enredo em que marujos em auto mar, são acometidos de escorbuto, pedem ajuda via rádio e rádio-amadores, fazem uma corrente mundial de solidariedade, visando o socorro daqueles desesperados.
8-O poderoso chefão - A trilha é ótima, o primeiro, com interpretação magistral de Marlon Brando, mas a crítica em geral sugere o dois, como imbatível, destacando a interpretação de Al Pacino.
9- Os Intocáveis- considerado o policial mais bem elaborado, com atuações notáveis, em especial, do grande Sean Connery. A cena do carrinho de bebe, caindo pela escadaria, que homenageia, O Couraçado de Potenkin, é antológica.
Como 10 á escolher: "Dançando na Chuva", como homenagem aos musicais e Gene Kelly e sua dança inesquecível, "A um passo da Eternidade", drama de guerra, com magistral e reabilitadora interpretação de Frank Sinatra,"O Julgamento de Nuremberg", a guerra em seus aspéctos mais sofridos, com Spencer Tracy inesquecível,"Os melhores anos de nossa vida", "O Gradiador", "Quanto mais quente melhor","Os deuses vencidos", " Casablanca", "Juventude Transviada","Tempos Modernos", etc,etc, etc.

domingo, 17 de maio de 2009

o invólucro da alma

Famoso filósofo da antiguidade, acreditava que o corpo humano tinha utilidade somente em vida, quando era o receptáculo da alma ou do espírito e que com a morte esse invólucro perdia toda sua finalidade e passaria a servir de alimento para os vermes.
Isso me fez remeter a fato publicado recentemente nos jornais, que me levou a reflexões e conjecturas mais profundas.
Senhora idosa, falecida há poucos anos, doou em testamento seu corpo para a ciência, dando como beneficiário, determinado, hospital-escola. Essa atitude gerou enorme controvérsia jurídica, que só foi solucionada há pouco tempo em favor, da vontade da falecida. Nesse ínterim seu corpo permaneceu insepulto e conservado, até que a justiça, desse sua decisão final. Muito concorreu para a decisão a vontade férrea de uma neta que invidou todos os esforços para ver a vontade de sua avó atendida. Como estudante de odontologia, sua neta teve o privilégio de ser a primeira a se beneficiar, para estudos, dos restos de sua avó e se declarou encantada com o fato e não ter sentido qualquer aversão em utilizar seu corpo inerte e sim orgulhosa do gesto de sua antepassada.
O fim dado ao corpo humano vária de acordo com as religiões, os costumes dos povos e o principal, a ação do homem que pode ser abjeta e cruel. Assim o corpo humano, desprovido de vida pode terminar de um grande número de formas.
Para os mais religiosos, o corpo do falecido deve ser sepultado num campo santo, em mausoléus ou enterrados em sete palmos de terra.
Hoje aceita-se bem, por várias razões, higiênicas, econômicas, por falta de espaço,etc, a cremação.
Em países como a Índia os cadáveres, mesmo de seus líderes, são incinerados em fogueiras e têm suas cinzas atirados no sagrado Rio Ganges.
Corpos, principalmente de indigentes, sem família para reclamá-los, são destinados para escolas de medicina, para estudo.
Porém, muitos cadáveres tem destinação menos nobres: assistindo a série televisiva, Medical Dectives, constatamos que corpos de assassinados são enterrados em covas rasas, jogados em beira de estradas, em lagos, emparedados, etc, e têm muitas vezes, membros mutilados para dificultar a identificação.
Em séculos atrás, em alguns lugares, os corpos de criminosos eram abandonados em locais desertos para serem comidos pelos abutres.
Muitos corpos desaparecem em acidentes como explosões de aviões, de minas, fábricas de armamentos, etc.
Outros são vítimas de acontecimentos heróicos como os astronautas cuja nave explodiu no espaço ou mesmo como nosso mártir da indepêndencia, Tiradentes, que teve seu corpo esquartejado e atirado em partes pelas estradas, a fim de servir de exemplo aos seus seguidores.
A famosa Máfia de desfazia de seus opositores, metralhando-os com centenas de tiros,
ou atirando-os ao mar, amarrados a grandes pesos, colocando-os em blocos de concreto ou desfazendo-os em ácido.
O que não dizer dos ditadores que se desfazem de seus opositores jogando seus corpos em alto mar, de aviões ?
Mártires como Santa Joana DÀrc e as vítimas de preconceitos regiosos, como as Feiticeiras de Salem, foram mortas em fogueiras, sob o histerismo de múltidões de sádicos espectadores.
Corpos de líderes políticos ou religiosos, são embalsamados e expostos á visitação pública.
E o que não dizer dos fanaticos religiosos que explodem seus corpos praticando cruéis atos de terrorismo,visando uma recompensa, pós morte?
Há pouco tempo visitei uma feira em que corpos foram utilizados de forma inusitada.Com pretensos objetivos científicos, cadáveres de chineses foram plastificados, para estudos de órgãos,veias. artérias,etc.Impressionante e mesmo aterrador.
Como expusemos, o corpo humano depois de morto ou mesmo liberto de sua alma, conforme o filósofo, pode ter os mais variados destinos. Então por que não dar-lhe um destino nobre, como a doação de órgãos, que servirão para amenizar o sofrimento de muitos semelhantes? Acredito que campanhas continuas e bem dirigidas aumentarão a consciência das pessoas e mais doações serão efetuadas.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

o emissário de Deus

Na década de 60, dos anos 1900, um pastor escritor, americano, conseguiu grande notoriedade por livros de auto-ajuda, que escreveu e vendia aos milhões, no mundo todo.Seu nome era Norman Vincent Pearle e em sua obra principal, O Poder do Pensamento Positivo, expunha sua teoria baseada no poder da mente, quando empregada com sabedoria e para o bem comum.
Pregava que todo ser humano tem potencial para grandes realizações, desde que utilize sua mente com força e pensamento , naquilo que queira conseguir, sem negativismos.
Para alcançar ser objetivos o homem deve ter objetivos claros e salutares e lutar firmemente para conseguí-los.
Norman teve muitos seguidores e muitos outros autores, apoiaram suas teorias, através de numerosos títulos, que inundaram as livrarias.
Para minha surpresa, que aprendí a admirar seus escritos, soube recentemente num programa de TV, que Norman, velho, doente e cansado, há algum tempo, deu termo á sua vida.
A base de sua teoria, entretanto prosperou e surgiram autores, psicólogos, religiosos
que seguiram esses preceitos no sentido de através do poder do pensamento, se alcançar desejos e realizações.
Doutrinas como a da Neurolinguística, ou de Igrejas como a Messiânica, Sheicho e outras, tem seus preceitos baseados na força do homem que aje positivamente, com fé e energias derivadas do poder da mente.
Mais recentemente, uma escritora australiana, Rhonda Byrne, publicou um livro, " O Segredo", com ideias semelhantes, que logo se tornou um "best seller" mundial, vendendo milhões de exemplares. Para a realização de filmes calcados no livro e a elaboração de uma continuação do mesmo, foi um passo, com o mesmo sucesso.
Alguns pastores americanos, evangélicos, como Billy Grahan,ligaram os preceitos do poder do pensamento positivo a princípios cristãos e aumentaram seus "rebanhos" de forma estratosférica e logo surgiram vários seguidores.
Descobriram então o poder de comunicação da televisão e se transformaram verdadeiros pastores virtuais.Alguns deles inclusive ultrapassaram fronteiras e passaram a apresentar seus cultos para outros países, primeiro via tapes e depois, direto, via satélite. Essas igrejas cresceram e prosperaram graças aos imensos donativos que lhe eram ofertados na forma de dízimos, contribuições espontâneas e vendas de livros, discos e outras campanhas. No Brasil o mais famoso deles foi Rex Humbard, que com sua família, jovem e bonita, grangeou muitos simpatizantes.
A Lei brasileira é muito branda na fundação de novas igrejas. Basta ter um estatuto registrado, um local para cultos, uma denominação sugestiva e responsáveis com bons conhecimentos da palavra da Bíblia e está formada uma nova igreja, apta a pregações e a angariar fundos para seu funcionamento e consequente crescimento.Isso sob as benesses da Lei que isenta as igrejas do pagamento de impostos.Se existe fiscalização ela é tênue.
Logo, alguns desses religiosos que se auto denominam com uma série de títulos, como, pastores, missionários,apóstolos,bispos,até emissários de Deus, sabedores que nosso povo é bastante crédulo e carente, passaram a realizar "milagres" em suas pregações, valendo-se dos princípios do poder da mente, da fé e da influência da sugestão entre seus crentes.Não quero entrar no mérito da desconfiança de muitos acerca da veracidade, de muitas dessas curas, efetuadas.
Em cerca de 30 anos, após o surgimento dessas igrejas, milhões de pessoas, ávidas de conseguirem curas para suas doenças físicas, espirituais e alcançarem graças como melhoria financeira e sentimental, passaram a frequentá-las e alimentarem seus patrimônios com o pagamento de dízimos, compra de livros, discos e a participar em toda a espécie de campanhas.Seus adéptos, inclusive, são facilmente reconhecíveis pois adotam um vocabulário peculiar, usando palavras específicas como orar, louvar, etc.
Algumas dessas igrejas cresceram de forma assustadora; compraram horários em rádios, jornais e televisões ( inclusive formaram redes nacionais) e passaram mesmo a ter influência política, uma vez que instaram seus fiéis, a votarem em candidatos de seus quadros.
Em seus programas de televisão, alguns desses pastores, realizam dezenas de "milagres" diariamente, muito mais do que o verdadeiro Cristo, efetuou em toda sua trajetória na terra.
Algumas cresceram tanto que se transformaram em potências internacionais, funcionando em dezenas de países, nos cinco continentes.
Li nos jornais recentemente, que um desses fundadores de Igreja, bastante próspero e dono de 4 helicópteros, estava indignado por estar sendo tratado num aeroporto, como simples mortal e querendo tratamento "vip" argumentou ser um "Emissário de Deus".
Tempos atrás a referência do viajante brasileiro em terras estrangeiras eram o Banco do Brasil ou os escritórios da VARIG, hoje essa igreja domina o cenário mundial em se tratando de Brasil. É mais encontrada que nossas embaixadas ou consulados.
É sabido que a igreja católica é muito prudente na aceitação de milagres para a beatificação e canonização de novos santos. É preciso ter provas concretas, de no mínimo dois milagres.
Há poucos dias presenciei um desses pastores ironizando esse procedimento, gabando-se de realizar "milagres" em profusão, diariamente em seus cultos...Sem querer ser irônico,sugeriria que ele prega-se algumas horas nas sofridas filas da madrugada, de nossos hospitais públicos e minora-se o sofrimento do povo através de feitos curativos...
Minha sugestão é que nossas autoridades revejam a legislação que isenta as igrejas do pagamento de impostos e passem a tributá-las, uma vez que o país necessita de receitas, para substituir a finada CPMF ou evitar que a caderneta de poupança, último bastião da economia do povinho, passe a reter impostos.
O que essas igrejas conseguiram, é credibilidade e seus crentes dão suas contribuições mensais, o dízimo, com muito orgulho e é comum se ouvir " se eu pudesse daria mais..."
Já o governo para conseguir seus tributos, é coercitivo e só recebe, devido as punições que o contribuinte, inadimplente sofre. Investindo seus receitas bem,em obras uteis e meritórias, cuidando da saúde, segurança e educação do povo, expulsando os corruptos " do templo", tenho certeza que o povo pagará seus impostos de bom grado e " se pudesse, daria mais"...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

turismo mórbito

Não sou daqueles que viaja com objetivo exclusivo ou faço passeios, visando unicamente visitar túmulos de artistas famosos ou de quaisquer outros vultos ou herois da história. No entanto havendo oportunidade, me emociono e reverencio com minhas preces, ao me deparar com a campa de alguma figura, que em vida conseguiu se sobressair e da qual admirei por seus feitos e conquistas.
É notorio, entretanto, que muitos países têm em seus idolos falecidos, fonte de muitas visitas nacionais e internacionais e com isso auferem vantagens e rendimentos, pois alimentam suas correntes de turismo.
A lista de exemplos é enorme e significativa:
Na antiga União Soviética,na Praça Vermelha, defronte ao Kremlin, durante muitos anos, foram expostos os corpos embalsamados dos artífices da revolução comunista, o ditador Stalin e o ideólogo, Lenin. Filas com milhares de pessoas, diariamente, ficavam horas esperando chegar a vez de reverenciaram seus antigos comandantes políticos. Somente com o fim da União Soviética esse culto á personalidade foi banido e os corpos retirados da praça e sepultados.
O mesmo não ocorreu na República Popular da China e o corpo do lider da revolução ,Mao Tsé Tung permanece em exposição, em monumento situado na Praça da Paz Celestial, defronte á Cidade Proibida, onde é visto diariamente por uma multidão de chineses.
Muitos turistas que vão á França, têm como visita obrigatória o cemitério Père Lacheise, onde estão sepultados entre outros famosos, o teatrólogo Moliére, a divina cantora Edith Piaf e principalmente, o jovem cantor, a voz do The Doors, Jim Morrinson. O luxuoso mausoleu onde estão os restos do Imperador Napoleão III, também é dos mais procurados.
Em Londres, o túmulo de Karl Marx é visitado por muitos admiradores do criador do socialismo e a catedral da Praça Trafalgar Square é ponto obrigatório dos amantes da história inglesa, pois ali estão sepultados muitos reis e políticos proeminentes, que tanto influência tiveram na trajetória da humanidade.
Num passeio, fomos conduzidos até os arredores da cidade onde o famoso Tâmisa é apenas um riacho. Ao lado do restaurante, objetivo do passeio, conheci com emoção um cemitério com tumbas de centenas de anos e muito me emocionei ao ver lápides datadas dos anos de 1200 a 1300. Pensar quem foram e como viviam aqueles que alí estão sepultados, é objeto de muitas conjecturas.
Quando estive em Mônaco tive grande emoção ao conhecer a Catedral em Monte Carlo e ver o local onde se encontram os restos mortais da Princesa Grace. Lembrei-me com saudade da linda atriz, Grace Kelly que encantou minha geração com filmes como: Ladrão de Casaca, HI FI e Disque M para Matar.Uma curva traiçoeira na sinuosa estrada do principado, ceifou sua vida, ainda muito jovem.
Na Itália, é difícil não se sensibilizar ao visitar igrejas e encontrarmos sepulturas de grandes escritores como Dante Alighieri, em Florença, a do Santo dos humildes e animais, Francisco, em Assis ou a de Santo Antonio em Pádua.
No Vaticano, descendo para o sub-solo da Basílica de São Pedro, nos deparamos com uma galeria onde estão os corpos de Papas que exerceram seus pontificados, desde centenas de anos, em especial os de meu tempo, Pio XII, Paulo VI,João XXIII, João Paulo I e João Paulo II. Para os católicos são momentos de muita emoção e reflexão.
Ainda em Roma, uma visita ás catacumbas nos reporta aos primeiros anos do cristianismo e somos levados a momentos de grande reflexão, ao nos depararmos com os primeiros mártires da religião.
Na Alemanha, mais precisamente em Dachau, nos arredores de Munique,uma visita ao local do campo de concentração, em que milhares de judeus foram subjugados e mortos pelos implacáveis nazistas, a sensação é de impotência e revolta com o ser humano. O ar é pesado e sente-se na carne, todo o martírio e o sofrimento trazido pelo holocausto.
Na Espanha, no Vale de Los Caídos, em grandioso monumento escavado numa montanha, está o imponente mausoleu do antigo lider, Franco e alguns quilômetros adiante, o Palácio Escorial, onde descendo escadarias, se encontram riquíssimas urnas onde estão depositados os corpos dos reis de Espanha, de várias dinastias.
Em Àvila, o corpo exposto de Santa Tereza, com suas relíquias, impressionam quaisquer visitantes e em Compostela, na Galícia, milhares de peregrinos visitam os restos de São Thiago, o apóstolo.
Na Turquia, não longe de Efeso, se encontram os supostos restos mortais de Maria e mais adiante estão as ruínas onde estão depositados os ossos de São João; visitas certas de romarias de cristãos.
Em Fátima, na visita obrigatória ao local das aparições, nos emocionamos com o local onde se encontram os restos dos pastorinhos, já falecidos.
Em Washington, tive a constatação da inutilidade das guerras ao visitar o mausoléu do soldados mortos na inútil guerra do Viet nan e ao cemitério de
Arligton, em terreno doado pelo General Lee, onde estão enterrados os heróis de guerra americanos, principalmente da Segunda Guerra Mundial.É uma grande extenção de lápides semelhantes, com tantas vidas interrompidas pela insensatez dos homens. Alí estão os restos do Presidente Kennedy, de seu pequeno filho e sua esposa Jaqueline. A emoção de quem os vê e se recorda da brutalidade do atentado que ceifou a vida do grand democrata é indiscritível.A poucos passos o monumento de Iwo Jima, episódio lembrado em recente filme premiado do grande Clint Eastwood nos sensibiliza.
Na década de 70, interessante filme italiano, de muito sucesso, chamado Mondo Cane, cujo enredo mostra casos bizarros por todo o mundo, enfoca o cemitério onde estão os restos do famoso ator da década de 20,Rodolfo Valentino, o maior astro do cinema mudo, falecido precocemente. O filme mostra mulheres de luto, que frequentavam seu túmulo, inconsoláveis, muitos anos após sua morte.
Na vizinha Argentina, duas tumbas são objetos de muitas visitas por pessoas de todo o mundo: a viúva do Presidente Perón, Evita,a mãe dos pobres, venerada pelo povo, no
cemitério de La Recoleta e a do cantor Carlos Gardel,no cemitério de Chacarita, áquele que para os argentinos, mais de 60 anos após sua morte, está cantando melhor do que nunca.
Em nosso país, várias cidades guardam sepulturas, objetos de muitas visitas e romarias.É o caso do Padre Cícero em Juazeiro do Norte, Tancredo Neves em São João Del Rey, Juscelino no Memorial de Brasilia,Padre Reus no Sapucaia do Sul, Getúlio Vargas e João Goulart, em São Borja,etc. No Rio de Janeiro o tradicional, São João Batista estão guardados os restos mortais de muitas figuras ilustres de nossos meios políticos e artísticos, como Carmen Miranda, Francisco Alves, etc.
No monumento do Pracinha,em plena orla marítima,estão os restos de nossos heróis da Segunda Guerra Mundial,cujos corpos foram transladados do Cemitério de Pistóia, na Italia, onde foram primeiramente sepultados.
Na linda Petrópolis, na catedral da cidade estão abertos á visitação as campas do imperador D. Pedro Segundo e família, destacando-se o da Princesa Isabel, a Redentora.
Em Fortaleza, Memorial, em que está exposto o helicóptero que o vitimou, homenageia o Presidente Castelo Branco.
Em São Paulo, no Mosteiro de São Bento está o corpo do bandeirante Fernão Dias,o Caçador de Esmeraldas, na Catedral da Sé, o considerado primeiro paulista, o cacique Tibiriça e na cripta situada no subsolo, embaixo da nave principal, estão os corpos dos bispos e cardeais da diocese de São Paulo.É um local emocionante e aberto á visitação dos fiéis.
Em frente ao Museu do Ipiranga, em imponente monumento, nos jardins inspirados em Versailles, estão os restos do proclamador de nossa independência, D. Pedro 1, cujo coração, ficou em exposição em Portugal.
No Páteo do Colégio, local sagrado da fundação da cidade, entre os restos do Colégio, o Museu, a Igreja estão os corpos dos padres fundadores da metrópole, Anchieta e Nóbrega.
No espaço do magnífico Museu de Arte Sacra, onde se encontra uma das construções mais antigas de São Paulo, freiras guardam anônimato e não se expôem ao mundo e distribuem as famosas pílulas
e, numa pequena capela está o corpo do primeiro santo nascido no Brasil, o paulista de Guaratingueta, Frei Galvão. Local muito visitado e venerado.
Alguns cemitérios nos jardins, guardam personagens muito signicativos para os brasileiros de São Paulo, como Airton Senna, Ellis Regina, Ronald Golias, o cantor Paulo Sérgio, os atores Paulo Autran, Raul Cortes, Cacilda Becker, etc.
Sugestões:
Por que não se fazer um catálogo para os visitantes interessados, dos locais em que estão enterrados os grandes vultos de nossa história, esportistas, artistas,( com o consentimento das famílias, é claro), que possam ser encontrados em empresas de turismo e postos de informações do Estado? Sabemos de fâs que vêm do exterior, unicamente para visitar os túmulos de seus ídolos.
Alguns cemitérios, como o da Consolação, além de guardarem os corpos de muita gente famosa, como a Marquesa de Santos, Rocha Marmo, dos Matarazzo, Crespi, etc, são verdadeiros museus ao ar livre, com obras de grandes escultores italianos e do grande Victor Brecheret, nosso maior representante dessa arte.Por que não se organizam visitas monitoradas, com profissionais especializados, oficiais, para visitantes interessados?
Na cidade, existem além dos cemitérios tradicionais, os em formato de jardins, o crematório, os cemitérios religiosos, como o protestante,os judaicos, orientais. Como sugestão e até servindo como homenagem porque não se fazer a exemplo do existente na Argentina, ao lado do estádio da Bombonera, do Boca Juniors,para os aficcionados do famosos clubes, cemitérios de adéptos de clubes?. Num terreno próximo ao Parque São Jorge se criaria um cemitério para os torcedores interessados em repousar eternamente, perto de seus ídolos e num local apropriado, se enterrariam os grandes jogadores do clube, com bustos e fotos de seus feitos em vida. Quem não se emocionaria em visitar seus idolos, como Cláudio, Luizinho,Baltazar,Carbone,Rafael, Roberto,Teleco, Neco, Vicente Matheus, Rato, Brandão, Rosa Branca, etc, etc.Outros clubes poderiam adotar idêntico procedimento. Acredito que a sugestão traria muito maiores dividentos financeiros e emocionais para os clubes e torcedores, do que essa briga tola, para se colocar nomes dos clubes de futebol, em estações do metrô.
Milhares de turistas e nativos visitam monumentos e mausoléus dos herois da terra, como o Phanteon de Paris, ou o Memorial de Lincoln, em Washington. São Paulo tem um monumento portentoso, de igual significado,mas pouco visitado, o Obelisco do Ibirapuera, onde estão os restos mortais de nossos herois da Revolução Constitucionalista, Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo; mártires executados num sombrio 23 de maio de 1932. Suas mortes foram o estopim para a revolução que São Paulo, travou contra as forças da União, em defesa de uma Constituição livre.Além desses mártires estão ali os corpos do tribuno da revolução, Ibrahin Nobre e centenas de soldados que deram a vida por nosso estado. Anualmente é feita uma homenagem no dia 9 de julho, data do início da revolução, e os remanescentes desse feito heróico desfilam, já velhinhos ( afinal já lá se vão 77 anos), garbosos em seus uniformes de luta.Corpos de outros soldados são transladados em cerimônia de grande emoção.
Por que não se montar um museu permanente no local, ao som de músicas da revolução, em surdina, e a voz de tribunos da revolução, como a do locutor, Cesar Ladeira? A troca da guarda poderia ser uma cerimônia, cuja solenidade, por certo atrairia muitos pessoas interessadas em nossa história.
O Poder Público,aproveitando sabiamente esse potencial turístico, em favor da cidade, nossos grandes vultos continuariam contribuindo, mesmo após seus desaparecimentos, para a grandeza da de São Paulo.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

gastronomia da saudade

Algumas refeições que fazemos ao longo de nossa vida permanecem em nosso sub-consciente e de vez em quando seus sabores nos afloram á mente, junto com um sentimento de nostalgia, já que a ligamos a fatos inesquecíveis ou pessoas queridas.
De minha meninice, lembro de algumas, que elaboradas com amor e esmêro, deixam meu âmago transbordado de emoção.
Vou citar algumas, que minha mãe, de família italiana, fazia já na década de 40, que se confeccionadas hoje, ainda seriam muito apreciadas.
No fogão á lenha era feita um pizza de massa normal, assada no forno e a cobertura era feita com queijo fresco, tomate em rodelas e sardinha, polvilhada com temperos como orégano e similares.
Frango temperado de carne, , empanado, cozido e recoberto com farinha de trigo e frito;croquetes de carne, camarão, linguiça, etc., carne recheada e amarrada, tortas,polentas em panela de ferro, sopas de ervilha, pães caseiros assados sob folhas de bananeira, em fornos de lenha, bolinhos de linguiça, salsicha,coxinhas, realmente de frango, bolachões de massa para acompanhar as sopas, macarronadas com molho de linguiça,manteiga, feijão; aos sábados, virado (tutu de feijão com farinha de milho) acompanhado de carne moída com batata, etc. As receitas eram simples, sem ingredientes burilados, mas os sabores inesquecíveis.
No café da manhã tinhamos um chamado " pão com ovo e leite ", precursor das charmosas rabanadas, tão apreciadas no Natal, hoje em dia; bolinhos de fubá e o inesquecível pão caseiro com manteiga.
Alguns doces de casa, como sidra, mamão verde,gelatinas feitas nas noites frias, sobre folhas de zinco, pés de moleque,passocas e principalmente o delicioso "tortei", como o chamávamos,cujos ingredientes principais de seu recheio eram: batata doce,feijão,um pouco de pinga e limão, mais açucar. Numa massa parecida com a do pastel, fritava-se e se deleitava com seu sabor.
Balas caseiras de café, coco,os famosos puxa-puxa e outras completavam os personagens de nossa gulodisse.
Para as visitas, que na época eram costumeiras e obrigatórias eram servidos licores preparados em casa, de jaboticaba, laranja, mixirica e outros muito apreciados.
Sucos eram feitos de limão,uvaia ( uma fruta azedinha muito abundante na região).
Frutos eram jaboticaba ( colhidas em pomares de sítios vizinhos, em árvores abarrotadas, cujos caules e galhos ficavam negros de tanta fartura),gabirobas, frutinha amarela de sabor característico, encontrada em propriedades em volta da cidade e as tradicionais pera d'água, laranja, manga,uva, pêssego,etc.Maçãs eram raras e importadas da Argentina, só se comia em caso de doença.
Ao fim das refeições, café plantado, colhido, torrado e moído no sítio de meu avô ou nono, como o chamávamos.
Tirando a chamada comida familiar, até como um pleito de gratidão, vou relembrar algumas refeições efetuadas ao longo do tempo e que passadas dácadas ainda guardo em minha memória mais seletiva.
Tinha no máximo uns oito anos e fui com meu Tio Tonico, irmão de minha mãe e o motorista Plinio, á vizinha cidade de Avaré, fazer entrega de macarrão, para os fregueses do pastifício, onde meu pai trabalhava. No hora do almoço, fomos a um bar conhecido, onde meu tio pediu para o proprietário, fritar umas porções "daquela linguiça especial". Comemos com pão e para mim foi um "manjar dos deuses", pois o sabor da linguiça era insuperável e até hoje minha boca se enche de água ao lembrar daquela simples refeição.
Minha Tia Mariquinha, uma senhora com muitos quilos, a mais, muito amorosa e beijoqueira; seus beijos, dos quais fugiamos, inundavam nossa face; morava na vizinha Agudos e de vez em quando, a visitávamos.Nessas ocasiões ela se esmerava em nos agradar. Lembro até com emoção, de uma polenta com carne de porco, que ela nos servia, cujo sabor fazia nos remeter ao Paraiso...
Mais ou menos, aos 15 anos quando ia á Igreja, assistir á missa dominical, ao ficar atrás de algum pilar, notava que minha visão estava com problemas, já que o "olho bom" em condições normais, supria as necessidades de visão.
Como em São Manuel, na época não tinha oftalmologista, fui até a vizinha cidade de Jau, onde foi constatado miopia, em meu olho direito e aviada a respectiva receita.
Para a compra dos óculos me desloquei a outra cidade limitrofe, Botucatu, onde fui apresentado a outra maravilha, para mim, na época.
Com fome, entrei num bar e fui apresentado a um aparelho até então desconhecido, um liquidificador.
Pedi uma vitamina de mamão, banana e leite e seu sabor é uma das boas lembranças de minha adolescência.
Mudando para São Paulo em 1956 e poucos meses conseguí meu primeiro emprego e de vez em quando fazia minha refeições na cidade.
Trabalhava na Praça Antonio Prado, para um banco estrangeiro, num local onde hoje funciona a bolsa de mercado futuro.
Do outro lado da praça, se encontra o ainda hoje imponente, Edifício Martinelli e em seu sub-solo, á época funcionava um restaurante. Alí conheci um prato insequecível "lasanha" verde ou não. Vinha fumegante e coberta por queijo tostadinho de sabor insuperável.
Mais tarde, após alguns anos, ia com meu amigo e colega, Stevan, precocemente falecido, até ao Largo do Arouche, comer no Restaurante " O Gato que Rí" . Sua lazanha também era maravilhosa, mas o que guardo em minha memória era seu famoso e enorme " filé á parmegiana". Maravilhoso.
Quando faziamos hora extra, iamos lanchar um bar chamado Três Porquinhos, onde o cachorro quente era digno dos deuses.
Nessa época, costumava frequentar amiúde a colônia dos funcionários do banco, onde ia com meus amigos. Numa dessas idas, o admistrador da colônia, o querido Sr. Àlvaro, português, gente fina, nos informou que estavam esperando muitos visitantes, que cancelaram sua ida e sua mulher tinha preparado grande quantidade de macarronada, álho e óleo; para a gente comer, á vontade. Comemos e repetimos várias vezes, estava deliciosa e me ficou gravada na memória.
Anos mais tarde, num outro emprego, tinhamos um colega, o paraense Hilário, a quem chamavámos de Carioca, tal seu amor pela cidade maravilhosa.Convidou a mim e o amigo comum Milton, para almoçarmos em sua casa quando sua mãe fizesse sua famosa carne assada.Um belo dia fomos e nunca nos arrependemos; a carne assada era divina, derretia na boca e tinha um gosto de quero mais. Está retida em minha lembrança.
Comí muitas pizzas em São Paulo, ínclusive nas pizzerias mais afamadas, porém, para mim, imbatível era a pizza que eu adquiria numa pequena fornecedora situada no Largo Prell, junto á Estrada de Itapecerica, nas imediações do clube do Banco do Brasil, a AABB.Em pouco tempo, mudou de dono e para meu desapontamento, de qualidade.
Outra refeição marcante ocorreu em minha primeira viagem, á Salvador, á serviço. O Polo Petroquímico de Camaçari estava sendo montado e fomos eu e dois gerentes da Du Pont, Saldanha e Colinvaux, "reconhecer o terreno".
Um dia, jantamos num restaurante chamado "Chez Bernard", uma lagosta imbatível e por isso inesquecível.
Mais tarde, já radicado em Salvador e trabalhando na fábrica de tolueno de isocianatos, fui convidado por um senhor, funcionário do escritório da cidade, a almoçar num restaurante que fazia uma carne assada " de se comer rezando", como ele dizia. Até o restaurante foi uma boa pernada, mas a recompensa pelo sabor da carne assada na ferrugem, foi tão compensador, que realmente, pensei em agradecer com uma oração.
Algumas refeições lembradas, merecem menção honrosa, como a primeira feijoada com ingredientes separados, consumida no Dom Fabrício, da Alameda Santos. O fílé com muzzarela de búfula, degustado no Rubaíyá; a bacalhoada, paga por um cliente, no Abril em Portugal e aquela massa com camarões gigantes, "devorada" num jantar de confraternização, no Máximo da Alameda Santos.
Uma das lembranças mais agradáveis era o frango trançado e as massas ravioli e capeletti que eu adquiria numa rotisserie, perto do Jardim da Aclimação. Esses pratos eram feitos com amor, carinho e extrema competência por um casal de idosos, pais do dono daquele espaço. Infelizmente, durou pouco tempo, os "velhinhos" cansados, se aposentaram e daqueles pratos, só restou a saudade.
À serviço, viajei várias vezes para Vitória onde levado por um nativo, tive oportunidade de conhecer um dos pratos típicos mais saborosos da culinária brasileira.Trata-se da caldeirada capixaba.Uma peixada divina e impossível de não se repetir várias vezes. Tenho certeza que se um empresário de São Paulo montasse um restaurante tendo como carro chefe, esse prato teria clientela cativa e fiel.
Executivo, tive a oportunidade de me hospedar em muitos hotéis de alto nível e frequentrar restaurantes de extrema categoria, no Brasil e vários países de todo o mundo. Comi muito bem inúmeras vezes e me lembro com saudades dos magníficos pratos feitos com peixes e frutos do mar consumidos no Chile, porém, as refeições que ficaram fazendo parte de minha história, foram as acima citadas, muitas caseiras e outras nem um pouco sofisticadas, como a inesquecível linguiça consunida há 60 anos na cidade de Avaré.
Minha mais recente refeição inesquecível é a brachola acompanhada de massa que pode ser pene, gnochi,spaguetti, tagliarini,com uma porção generosa de parmegiani, que saboreiro na cantina Jardim de Napoli, com a vantagem que refaço essa sensação de agrado ao paladar, com alguma frequencia.
Como sugestão a empreendedores:
Porque não se fazer restaurantes com comidas caseiras, receitas de família esquecidas, doces com ingredientes simples e saborosos, sucos com frutas diferentes, e encerradas com licor artesanal, para que pessoas se sintam num ambiente especial, longe da mesmice de sempre?

quarta-feira, 6 de maio de 2009

a caixa mágica

Com o advento da televisão o mundo entrou numa nova era. Olhos fixos na telinha, o entretenimento da população mudou de maneira total. Acabaram-se as visitas de cortesia, as cadeiras na calçada para a troca de fofocas, os vai e vem, sem destino,os passeios para ver vitrines das lojas. Todos queriam estar defronte da caixa mágica.
Como no início os aparelhos eram proibitivos aos menos aquinholados, a figura do tele-vizinho tornou-se uma constante e as visitas se davam apenas nas casas daqueles que possuiam a nova maravilha.
Aos poucos os aparelhos foram se tornando mais acessíveis á toda população; foram evoluindo, surgiu a TV á cores e o público foi se tornando mais exigente com relação ao que se apresentava na telinha. Começou a competição entre as emissoras.
Nada mais de programas de artistas dublando cantores famosos, calouros ridículos e chanchadas descompromissadas. A batalha da audiência e consequente disputa pelos melhores patrocinadores, começou a ficar feroz.
Um invento revolucionou novamente a TV, o surgimento do video cassete. Com esse aparelho milagroso pode-se gravar programas, melhorando a categoria artística, já que não sendo "ao vivo", já que podendo-se repetir cenas, a produção ficava de melhor qualidade. O vídeo á cores aperfeiçoou ainda mais a programação.
Mas e a criatividade ? Enfrentar 24 horas de programação era tarefa hercúlea e manter um bom nível de atrações, necessidade para se manter em boa condição na competição.
Com a maquininha debaixo do braço, alguns executivos das emissoras passaram a viajar para o exterior, principalmente Estados Unidos, em busca de novas ideias.
Aí apareceram em nossos vídeos programas de entrevistas, calcados em modelos estrangeiros, personagens como Topo Gigio e Bozo, encantaram nossas crianças.
A dublagem de filmes, com boa qualidade trouxe um novo eldorado para as programações, com a exibição de desenhos e películas de impacto.
A globalização do mundo, a invenção da Internet e principalmente a TV á cabo foi como uma terceira onda, no mundo televisivo. Os fatos acontecidos estão em tempo real em nossas salas, quartos, cozinhas e até banheiros, já que hoje em dia, os lares passaram a ter um televisor em cada aposento.
Mas e a criatividade, o conteúdo dos programas, têm acompanhado essa crescente inovação tecnológica? Infelizmente, não.
Como dizia décadas atrás, o grande comunicador, Abelardo Barbosa, o Chacrinha: " na televisão nada se cria, tudo se copia".
De fato, basta um programa fazer sucesso numa emissora para que as demais passem a exibir produções calcadas nele. É O caso dos programas onde se procura aproximar casais, para namoro; ou á procura de novos Idolos para a TV, exploração de conflitos familiares com intervenção de psicólogos, etc.
A exploração dos mais terríveis crimes torna-se prato cheio para as TVs e todos os pormenores mais aviltantes são explorados, até cairem no esquecimento, com o surgimento de novas "atrações".
Um filão que serviu para diminuir o nível da programação da maioria dos canais foi o surgimento dos programas "religiosos".
O fenômeno surgiu nos Estados Unidos com pastores como Billy Graham e outros que fizeram da telinha seu púlpito.
Décadas atrás passou a seu exibido no Brasil videos de programas de um pastor chamado Rex Humbard. Com sua linda esposa e filhos loiros e bonitos, com suaves canções, seduziu grande parte de nossos tele-expectadores, que logo se tornaram fans da família, seguiam suas pregações e faziam suas contribuições financeiras, conforme solicitado.
Numa vinda a São Paulo lotou o estádio do Pacaembú com seus novos seguidores.
Ocorre que com o tempo alguns brasileiros com bastante visão, fundaram suas igrejas e substituiram os pastores americanos, no gosto de nossos conterrâneos.
Hoje são grandes corporações,têm força política, com templos magníficos, canais próprios e programação massiça em quase todos os canais.
Outro filão que concorre para diminuir a oferta de entretenimento pela TV é a proliferação de canais com objetivos de vendas, que tornam nossa casa num entreposto comercial.
Finalmente, a falta de criatividade se manifesta com a compra de programas estrangeiros com os famigerados "reality shows" que monopolizam nossa TV, com situações as mais absurdas, enjaulando pessoas na maior promiscuidade, trocando casais,vivendo em matas nas condições mais absurdas,ou fazendo competições de derretimento de banha, expondo pessoas a situações ridículas. Tudo isso é comprado a peso de ouro e copiado pela demais emissoras.
Minha sugestão é:
Incentivar a criatividade de nossos produtores a lançar programas com novas ideias.
-É sabido que nossos publicitários estão entre os melhores do mundo. Basta ver o nível de muitos comerciais que são premiados internacionalmente.Se eles são capazes de promover maus produtos, tornando-os palatáveis, como é o caso de muitos políticos em suas campanhas eleitorais, porque não aproveitá-los em nossas emissoras de TV para criar programas mais inteligentes?
- Por que não voltar a se produzir programas de tiveram êxito no passado, como os grandes musicais homenageando nossos melhores cantores e compositores?
_ Sugiro se fazer campanhas incentivando o público a enviar ideias, visando melhorar a qualidade da programação, para não ficarmos reféns de programas de má qualidade, muitos copiados ou comprados, a peso de ouro, do exterior.
É uma pena termos televisões de até 52 polegadas, com projeção HD,de Plasma e LCD e termos que aturar programas de baixa qualidade ou ficarmos dependentes de filmes, muito reprisados e de partidas de futebol.

terça-feira, 5 de maio de 2009

A era do rádio

Não acredito que no início do século XX o italiano Marconi, sonhou com a dimensão que seu invento, o rádio, iria ter para a humanidade.
Primeiramente modesta, a importância do rádio foi crescendo até se tornar no mais importante meio de comunicação por muitas décadas.
Como entretenimento divertiu milhões de pessoas, como informativo veiculava as notícias ao tempo que os fatos aconteciam, para o mundo todo, através de suas ondas médias, curtas e moduladas, como propagandista tornou conhecido milhares de produtos, que sem ele, praticamente, não existiriam.
Para comprovar essa afirmação vamos nos ater a algumas ilustrações:
Na década de 30 um novato radialista, que depois se tornou famoso mundialmente, como ator, Orson Welles, sem nenhum aviso preliminar, interrompeu a programação da emissora, para a qual trabalhava e passou a narrar com grande dramaticidade e alarde, suposta invasão de seres alieníginas á terra. Foi tão veemente e verossímel, que o povo saiu ás ruas apavorado, temendo a destruição em massa, por marcianos.
Após muita confusão revelou-se que se tratava apenas de um programa radiofônico, com a transmissão da peça " A guerra dos mundos", de H.G.Wells. Nesse episódio ficou cabalmente demonstrada a força do rádio e sua importância como veículo de comunicação.
Nas guerras, o rádio também teve importância decisiva, não só pela comunicação entre as tropas, que se contatava por códigos, como pela propaganda que se fazia para minar a moral dos países beligerantes, com relatos falsos ou não, dos exércitos inimigos.
Na década de 40 em plena segunda guerra mundial, o poder do rádio era tão grande que seus possuidores eram obrigados a registrá-los e pagar uma taxa nos correios. Em terra de muitos imigrantes italianos e alemães controlava-se o que se ouvia em ondas curtas...
Produtos como Melhoral, com seus slogans " é melhor e não faz mal", Veramon, Pílulas de Vida do Dr. Ross, Emulsão de Scoth, Óleo de Fígado de Bacalhau, etc, tinham suas vendas alicerçadas, via rádio. Móveis, fogões,utensílios domésticos, etc, eram ancoradas pelas ondas do eter, como se dizia.
Ídolos eram venerados e seus programas ouvidos por multidões e alguns de seus expoentes,no Brasil, foram: Carmen Miranda, Francisco Alves, Sílvio Caldas, Carlos Galhardo, Vicente Celestino, Orlando Silva,Isaurinha Garcia, etc, etc.
Nos noticiários se destacavam: Cesar Ladeira, que foi o locutor oficial da revolução constitucionalista de São Paulo e Heron Domingues, com seu imortal, " Reporter Esso".
Nos programas de auditório, principalmente, os da Rádio Nacional, da então capital, Rio de Janeiro, pontuava, Cesar de Alencar, Manoel Barcelos,Paulo Gracindo, Júlio Lousada e muitos outros.
O inocente riso daqueles tempos era garantido pela PRK30 de Maulo Borges e Castro Gonzaga, por Pimpinela, criação de Silvino Neto, pai do comediante Paulo Silvino, o Severino de Zorra Total,Dr. Infezulino ( Osvaldo Elias), Nhô Totico,pelo iniciante Chico Anisio, pela Turma da Maloca de Osvaldo Moles, onde despontava, o jovem Adoniran Barbosa.
Muitos cantores despontaram para o estrelato através dos programas de calouros, como os de Ari Barroso, Renato Murce e a famosa Hora do Pato.
Populações inteiras se comoviam com as rádio-novelas, que esvaziavam as ruas, em seus horários. Celso Guimarães, Roberto e Floriano Faissal, Ismênia de Oliveira e muitos outros enterneciam o povo com os escritos de Janet Clair, Ghiaroni, Sarita Campos,o cubano Felix Caignet, autor da famosa " O Direito de Nascer",etc.
A narração dos jogos de futebol, por verdadeiros expoentes, como Pedro Luiz, Edson Leite, Jorge Cury, Antonio Cordeiro, Luiz Mendes, Geraldo José de Almeida, Wilson Brasil, Walter Abrahão, entre muitos outros, traziam a emoção do esporte para milhões de ouvintes, através de seu imaginário. Após as partidas, Esteban Borreaux Sangirandi e sua equipe nos encantava com seus impagáveis personagens, como Didu Morumbi, o "snob" torcedor do tricolor paulista.
Com o tempo, outros meios de comunicação, como o cinema falado, foram surgindo e á partir de 1950, a televisão apareceu, como seu maior inimigo. Parecia que o rádio iria desaparecer, tal o impacto trazido pela novidade, qua aliava som e imagem e assim, muitos dos expoentes do rádio migraram para esse novo Eldorado.
O prestígio do rádio foi abalado, mas não desapareceu. A reação veio com as rádios FM que traziam ótimo som e boa música a qualquer tempo, em qualquer lugar.Porém, foi com uma invenção trazida do Japão, que o rádio deu uma grande guinada, os rádios portáteis transistorizados. De início caros, como os objetos de desejo, Spica e Hitachi, foram aos poucos se popularizando, baixando os preços e invadindo, todos os locais. Nas ruas, parques, filas, o rádinho , colado ao ouvido, tinha seu lugar e audiências assegurados.
Neste ato, presto um pleito de homenagem e gratidão, para alguns radialistas que marcaram minha trajetória e de muitos outros ouvintes.
Em meados da década de 60, ingressei na Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie e logo no início do curso assistí a uma palestra no auditório de seu campus. Estavam presentes alunos de todos as classes, já que o convidado era figura importante nos meios jurídicos.
Após a explanação, foi franqueada a participação dos presentes para perguntas ao palestrante e um dos alunos, prestes a se formar, formulou sua pergunta e ao mesmo tempo pediu á plateia, que o aplaudisse, da mesma forma que fazia com o convidado.. A pergunta foi inteligente, porém considerei a atitude do colega, algo arrogante.
Mais tarde fiquei sabendo que se tratava de Hélio Ribeiro, na época, já um idolo do rádio paulista.
De fato, Hélio, com seu programa, "O Poder da Mensagem", revolucinou a programação radiofônica com seus comentários inteligentes e pertinentes. Sua tradução simultânea dos grandes hits da música internacional, foi inovador e comoveu muita gente, que não entendia a mensagem da música, sem conhecer o idioma original.
Sucesso por muito tempo, mais tarde Hélio se radicou nos Estados Unidos, voltou ao Brasil, mas infelizmente, faleceu precocemente.
Outro expoente foi Moraes Sarmento, que com seu jeito coloquial trouxe uma grande contribuição para a música tradicional brasileira. Grandes cantores, como Araci de Almeida, Ciro Monteiro, Vicente Celestino, entre muitos outros, eram lembrados por ele e seu gesto batendo o braço e dizendo " aquele abraço", jamais serão esquecidos.
Vicente Leporace, rabugento, com seu tipo italianado, falou muitas verdades em seu tradicional programa " O Trabuto" e nos deixou muitas saudades.
NO rádio esportivo o locutor poeta Fiori Gigliotti marcou época com suas tiradas humanas e sentimentais e homenageou muitos jogadores esquecidos, com seu enternecedor, " Cantinho da Saudade".Fiori foi o mestre de cerimônia de minha formatura e começou o ato solene, com seu famosa frase: " Abrem-se as cortinas e começa a formatura"...( no original " o espetáculo").
A lista de grandes radialistas é enorme, mas só vou nomear apenas alguns, já desaparecidos, como uma forma de homenagem: Enzo de Almeida Passos ( o popular Gatão), Clodoaldo José,Gioia Junior,Ronald Golias ( que nos encantava com seu humor espontâneo, no programa da rádio Nacional, do grande Manoel da Nóbrega), Walter Silva, do Picape do Picapau, que revolucionou a moderna música brasileira,etc,etc.
Hoje, infelizmente, o rádio passa por uma fase difícil, a caminho do ostracismo, pela invasão de pastores das mais variadas crenças que nos impingem suas presenças, e monopolizam as audiências, principalmente na outrora importante, FM.
Os aparelhos que gravam músicas através a Internet, também, reduzem os rádios transmissores a uma posição secundária. Rádios de carros foram substituídos por toca-fitas.
Até decisões esdruxúlas, servem para diminuir a importância do rádio. Salvo algumas emissoras especializadas em notícias, que mantêm boa audiência, como a CBN, BANDNEWS e outras,ou ás transmissões esportivas, um único programa mantinha minha fidelidade diária ao rádio. POr 10 anos o grande comunicador Salomão Schwaztman, mantinha obrigatório programa na Rádio Cultura FM, com boa música, tiradas inteligentes, comentários cáusticos e verdadeiros, tendo inclusive patrocinadores de alto nível, que garantiam boa parte do faturamento da emissora.
Mudando a direção da rádio, uma das poucas audíveis hoje em dia, por tocar música de classe,infelizmente, o grande comunicador for dispensado, devido a nova linha política da emissora.
Para nossa satisfação, a Rádio Scala FM, após algum tempo, teve a inteligência de contratar o grande Salomão, competente desde os tempos da finada e inesquecível, Rede Manchete.
Eís, porém, que para nosso desgosto a Rádio Scala foi vendida para a Rede Bandeirantes, que não teve a sabedoria de manter a atração mais inteligente do rádio, no ar e colocou em seu lugar um programa com aqueles locutores engraçadinhos, que tocam músicas de gosto duvidoso, como ocorre com frequencia em nossas FMs.
Porém, nem tudo está perdido, pois Salomão está sendo aproveitado na canal Bandnews com seus comentários oportunos e espirituosos.A falta de seu programa de rádio nas manhãs paulistanas, porém, é inegável.
Para a reabilitação do prestígio do rádio sugiro.
-Retorno de alguns programas como os de Moraes Sarmento,Gióia Junior ( com seu bordão, " e chega de prosa",Leporace,Golias, mesmo os originais gravados.
-Volta de rádio-novelas com temas que reproduzam grandes romances, como Romeu e Julieta, O Conde de Monte Cristo,etc, etc. Hoje muitas donas de casa, mantem as TVs ligadas, com a programação mediocre das manhãs e tardes e ficam fazendo seus afazeres e apenas ouvem o som das TVs, como se fosse rádio.
- Programas com música clássica, como o do querido Artur da Távola, outra perda insuperável, " Quem tem medo da música clássica", onde ele didáticamente desinfernizava o preconceito contra a boa música.
- O retorno do obrigatório programa matinal do Salomão Schwatzman
Como ideia para homenagear os grandes do rádio, porque não se faz uma Casa do Radio, onde todas as emissoras exporiam seus acervos artisticos que estão se perdendo, exibindo fotos, filmes, gravações das grandes vozes, etc. Material não falta, da antiga rede Tupi, Nacional, Excelsior, a velha Record, Cruzeiro do Sul, Piratininga, etc.
Por que uma Rádio como a Bandeirantes, onde Fiori Gigliotti, trabalhou por tantos anos, não reproduz um programa com as gravações do " Cantinho da Saudade?", ou mesmo não se publica um livro com essas emocionantes crônicas ? ou mesmo um CD ?
Um filme recente é a imagem do que era o rádio e sua posterior decadência. A obra do consagrado diretor Stanley Kubrik, " A Última Noite", mostra o último programa de auditório de uma rádio cujo espaço, um velho teatro está prestes a ser demolido. Velhos artistas, com muito profissionalismo, demonstram seu talento pela derradeira vez, com o coração sufocado pela emoção e nostalgia. Para os amantes do rádio um filme para ver e rever.
Finalizo com uma homenagem para aquele que no momento é o espirito do rádio: Milton Neves, que em suas atuações nos encanta com seu dinamismo e amor com que se dedica a esse meio de comunicação.