sexta-feira, 8 de maio de 2009

turismo mórbito

Não sou daqueles que viaja com objetivo exclusivo ou faço passeios, visando unicamente visitar túmulos de artistas famosos ou de quaisquer outros vultos ou herois da história. No entanto havendo oportunidade, me emociono e reverencio com minhas preces, ao me deparar com a campa de alguma figura, que em vida conseguiu se sobressair e da qual admirei por seus feitos e conquistas.
É notorio, entretanto, que muitos países têm em seus idolos falecidos, fonte de muitas visitas nacionais e internacionais e com isso auferem vantagens e rendimentos, pois alimentam suas correntes de turismo.
A lista de exemplos é enorme e significativa:
Na antiga União Soviética,na Praça Vermelha, defronte ao Kremlin, durante muitos anos, foram expostos os corpos embalsamados dos artífices da revolução comunista, o ditador Stalin e o ideólogo, Lenin. Filas com milhares de pessoas, diariamente, ficavam horas esperando chegar a vez de reverenciaram seus antigos comandantes políticos. Somente com o fim da União Soviética esse culto á personalidade foi banido e os corpos retirados da praça e sepultados.
O mesmo não ocorreu na República Popular da China e o corpo do lider da revolução ,Mao Tsé Tung permanece em exposição, em monumento situado na Praça da Paz Celestial, defronte á Cidade Proibida, onde é visto diariamente por uma multidão de chineses.
Muitos turistas que vão á França, têm como visita obrigatória o cemitério Père Lacheise, onde estão sepultados entre outros famosos, o teatrólogo Moliére, a divina cantora Edith Piaf e principalmente, o jovem cantor, a voz do The Doors, Jim Morrinson. O luxuoso mausoleu onde estão os restos do Imperador Napoleão III, também é dos mais procurados.
Em Londres, o túmulo de Karl Marx é visitado por muitos admiradores do criador do socialismo e a catedral da Praça Trafalgar Square é ponto obrigatório dos amantes da história inglesa, pois ali estão sepultados muitos reis e políticos proeminentes, que tanto influência tiveram na trajetória da humanidade.
Num passeio, fomos conduzidos até os arredores da cidade onde o famoso Tâmisa é apenas um riacho. Ao lado do restaurante, objetivo do passeio, conheci com emoção um cemitério com tumbas de centenas de anos e muito me emocionei ao ver lápides datadas dos anos de 1200 a 1300. Pensar quem foram e como viviam aqueles que alí estão sepultados, é objeto de muitas conjecturas.
Quando estive em Mônaco tive grande emoção ao conhecer a Catedral em Monte Carlo e ver o local onde se encontram os restos mortais da Princesa Grace. Lembrei-me com saudade da linda atriz, Grace Kelly que encantou minha geração com filmes como: Ladrão de Casaca, HI FI e Disque M para Matar.Uma curva traiçoeira na sinuosa estrada do principado, ceifou sua vida, ainda muito jovem.
Na Itália, é difícil não se sensibilizar ao visitar igrejas e encontrarmos sepulturas de grandes escritores como Dante Alighieri, em Florença, a do Santo dos humildes e animais, Francisco, em Assis ou a de Santo Antonio em Pádua.
No Vaticano, descendo para o sub-solo da Basílica de São Pedro, nos deparamos com uma galeria onde estão os corpos de Papas que exerceram seus pontificados, desde centenas de anos, em especial os de meu tempo, Pio XII, Paulo VI,João XXIII, João Paulo I e João Paulo II. Para os católicos são momentos de muita emoção e reflexão.
Ainda em Roma, uma visita ás catacumbas nos reporta aos primeiros anos do cristianismo e somos levados a momentos de grande reflexão, ao nos depararmos com os primeiros mártires da religião.
Na Alemanha, mais precisamente em Dachau, nos arredores de Munique,uma visita ao local do campo de concentração, em que milhares de judeus foram subjugados e mortos pelos implacáveis nazistas, a sensação é de impotência e revolta com o ser humano. O ar é pesado e sente-se na carne, todo o martírio e o sofrimento trazido pelo holocausto.
Na Espanha, no Vale de Los Caídos, em grandioso monumento escavado numa montanha, está o imponente mausoleu do antigo lider, Franco e alguns quilômetros adiante, o Palácio Escorial, onde descendo escadarias, se encontram riquíssimas urnas onde estão depositados os corpos dos reis de Espanha, de várias dinastias.
Em Àvila, o corpo exposto de Santa Tereza, com suas relíquias, impressionam quaisquer visitantes e em Compostela, na Galícia, milhares de peregrinos visitam os restos de São Thiago, o apóstolo.
Na Turquia, não longe de Efeso, se encontram os supostos restos mortais de Maria e mais adiante estão as ruínas onde estão depositados os ossos de São João; visitas certas de romarias de cristãos.
Em Fátima, na visita obrigatória ao local das aparições, nos emocionamos com o local onde se encontram os restos dos pastorinhos, já falecidos.
Em Washington, tive a constatação da inutilidade das guerras ao visitar o mausoléu do soldados mortos na inútil guerra do Viet nan e ao cemitério de
Arligton, em terreno doado pelo General Lee, onde estão enterrados os heróis de guerra americanos, principalmente da Segunda Guerra Mundial.É uma grande extenção de lápides semelhantes, com tantas vidas interrompidas pela insensatez dos homens. Alí estão os restos do Presidente Kennedy, de seu pequeno filho e sua esposa Jaqueline. A emoção de quem os vê e se recorda da brutalidade do atentado que ceifou a vida do grand democrata é indiscritível.A poucos passos o monumento de Iwo Jima, episódio lembrado em recente filme premiado do grande Clint Eastwood nos sensibiliza.
Na década de 70, interessante filme italiano, de muito sucesso, chamado Mondo Cane, cujo enredo mostra casos bizarros por todo o mundo, enfoca o cemitério onde estão os restos do famoso ator da década de 20,Rodolfo Valentino, o maior astro do cinema mudo, falecido precocemente. O filme mostra mulheres de luto, que frequentavam seu túmulo, inconsoláveis, muitos anos após sua morte.
Na vizinha Argentina, duas tumbas são objetos de muitas visitas por pessoas de todo o mundo: a viúva do Presidente Perón, Evita,a mãe dos pobres, venerada pelo povo, no
cemitério de La Recoleta e a do cantor Carlos Gardel,no cemitério de Chacarita, áquele que para os argentinos, mais de 60 anos após sua morte, está cantando melhor do que nunca.
Em nosso país, várias cidades guardam sepulturas, objetos de muitas visitas e romarias.É o caso do Padre Cícero em Juazeiro do Norte, Tancredo Neves em São João Del Rey, Juscelino no Memorial de Brasilia,Padre Reus no Sapucaia do Sul, Getúlio Vargas e João Goulart, em São Borja,etc. No Rio de Janeiro o tradicional, São João Batista estão guardados os restos mortais de muitas figuras ilustres de nossos meios políticos e artísticos, como Carmen Miranda, Francisco Alves, etc.
No monumento do Pracinha,em plena orla marítima,estão os restos de nossos heróis da Segunda Guerra Mundial,cujos corpos foram transladados do Cemitério de Pistóia, na Italia, onde foram primeiramente sepultados.
Na linda Petrópolis, na catedral da cidade estão abertos á visitação as campas do imperador D. Pedro Segundo e família, destacando-se o da Princesa Isabel, a Redentora.
Em Fortaleza, Memorial, em que está exposto o helicóptero que o vitimou, homenageia o Presidente Castelo Branco.
Em São Paulo, no Mosteiro de São Bento está o corpo do bandeirante Fernão Dias,o Caçador de Esmeraldas, na Catedral da Sé, o considerado primeiro paulista, o cacique Tibiriça e na cripta situada no subsolo, embaixo da nave principal, estão os corpos dos bispos e cardeais da diocese de São Paulo.É um local emocionante e aberto á visitação dos fiéis.
Em frente ao Museu do Ipiranga, em imponente monumento, nos jardins inspirados em Versailles, estão os restos do proclamador de nossa independência, D. Pedro 1, cujo coração, ficou em exposição em Portugal.
No Páteo do Colégio, local sagrado da fundação da cidade, entre os restos do Colégio, o Museu, a Igreja estão os corpos dos padres fundadores da metrópole, Anchieta e Nóbrega.
No espaço do magnífico Museu de Arte Sacra, onde se encontra uma das construções mais antigas de São Paulo, freiras guardam anônimato e não se expôem ao mundo e distribuem as famosas pílulas
e, numa pequena capela está o corpo do primeiro santo nascido no Brasil, o paulista de Guaratingueta, Frei Galvão. Local muito visitado e venerado.
Alguns cemitérios nos jardins, guardam personagens muito signicativos para os brasileiros de São Paulo, como Airton Senna, Ellis Regina, Ronald Golias, o cantor Paulo Sérgio, os atores Paulo Autran, Raul Cortes, Cacilda Becker, etc.
Sugestões:
Por que não se fazer um catálogo para os visitantes interessados, dos locais em que estão enterrados os grandes vultos de nossa história, esportistas, artistas,( com o consentimento das famílias, é claro), que possam ser encontrados em empresas de turismo e postos de informações do Estado? Sabemos de fâs que vêm do exterior, unicamente para visitar os túmulos de seus ídolos.
Alguns cemitérios, como o da Consolação, além de guardarem os corpos de muita gente famosa, como a Marquesa de Santos, Rocha Marmo, dos Matarazzo, Crespi, etc, são verdadeiros museus ao ar livre, com obras de grandes escultores italianos e do grande Victor Brecheret, nosso maior representante dessa arte.Por que não se organizam visitas monitoradas, com profissionais especializados, oficiais, para visitantes interessados?
Na cidade, existem além dos cemitérios tradicionais, os em formato de jardins, o crematório, os cemitérios religiosos, como o protestante,os judaicos, orientais. Como sugestão e até servindo como homenagem porque não se fazer a exemplo do existente na Argentina, ao lado do estádio da Bombonera, do Boca Juniors,para os aficcionados do famosos clubes, cemitérios de adéptos de clubes?. Num terreno próximo ao Parque São Jorge se criaria um cemitério para os torcedores interessados em repousar eternamente, perto de seus ídolos e num local apropriado, se enterrariam os grandes jogadores do clube, com bustos e fotos de seus feitos em vida. Quem não se emocionaria em visitar seus idolos, como Cláudio, Luizinho,Baltazar,Carbone,Rafael, Roberto,Teleco, Neco, Vicente Matheus, Rato, Brandão, Rosa Branca, etc, etc.Outros clubes poderiam adotar idêntico procedimento. Acredito que a sugestão traria muito maiores dividentos financeiros e emocionais para os clubes e torcedores, do que essa briga tola, para se colocar nomes dos clubes de futebol, em estações do metrô.
Milhares de turistas e nativos visitam monumentos e mausoléus dos herois da terra, como o Phanteon de Paris, ou o Memorial de Lincoln, em Washington. São Paulo tem um monumento portentoso, de igual significado,mas pouco visitado, o Obelisco do Ibirapuera, onde estão os restos mortais de nossos herois da Revolução Constitucionalista, Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo; mártires executados num sombrio 23 de maio de 1932. Suas mortes foram o estopim para a revolução que São Paulo, travou contra as forças da União, em defesa de uma Constituição livre.Além desses mártires estão ali os corpos do tribuno da revolução, Ibrahin Nobre e centenas de soldados que deram a vida por nosso estado. Anualmente é feita uma homenagem no dia 9 de julho, data do início da revolução, e os remanescentes desse feito heróico desfilam, já velhinhos ( afinal já lá se vão 77 anos), garbosos em seus uniformes de luta.Corpos de outros soldados são transladados em cerimônia de grande emoção.
Por que não se montar um museu permanente no local, ao som de músicas da revolução, em surdina, e a voz de tribunos da revolução, como a do locutor, Cesar Ladeira? A troca da guarda poderia ser uma cerimônia, cuja solenidade, por certo atrairia muitos pessoas interessadas em nossa história.
O Poder Público,aproveitando sabiamente esse potencial turístico, em favor da cidade, nossos grandes vultos continuariam contribuindo, mesmo após seus desaparecimentos, para a grandeza da de São Paulo.

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