segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Os doces sabores da infância

Como assinante da Folha, um de meus suplementos favoritos, sem dúvida é o que sai às quintas- feiras: Equilíbrio.
Aprecio muito os artigos, principalmente os de Michael Kepp, um gringo que sabe captar com grande profundidade os valores bons e as idiossincrasias de nosso povo tupiniquim.
Como educador os artigos de Rosely Sayão também me leva a reflexões acerca da psicologia a ser aplicada à infância e adolescência, hoje sujeita a tantos desafios.
Um artigo recente de Anna Veronica Mautner, " Aprender a ser adulto", me fez refletir bastante e me animou a fazer algumas considerações.
Basicamente o artigo fala da vida moderna, em que crianças e adolescentes encontram tudo pronto e apto a ser consumido como jogos eletrônicos, fast-foods, estadas em hotéis com monitores orientando as brincadeiras. Para um adulto da geração antiga torna-se difícil entender e aplicar essa nova modalidade de vida e vem a pergunta; a modernidade de hoje é melhor para a formação do indivíduo com relação à educação tradicional?
Lembro que em minha infância se jogava fubebol em campinhos improvisados, com bolas de meia ao invés das atuais escolinhas de futebol, com uniformes, chuteiras, técnicos. Será que os jogadores de hoje se divertem tanto com as novas responsabilidades?
Um de meus brinquedos favoritos era uma caixa cheia de pequenos cilindros de madeira, os quais originalmente serviam de base para fitas com adesivos utilizados numa indústria em que meu pai trabalhava.
Esses cilindros povoavam nossa imaginação; ora eram tribos indíginas que atacavam caravanas de pioneiros do velho oeste, ou então soldados que se digladiavam com seus inimigos ou ainda seres intergaláticos que em naves velozes cortavam o universo em busca de grandes conquistas.
Fitas em série passadas no cinema da cidade inspiravam essas aventuras.
Jogos de esconde esconde, estátua, amarelinhas, piões, papagaios, bolinhas de gude, mata-mata ou de picova completavam nossos folguedos os quais precindiam de qualquer fiscalização adulta.
Nossas mães faziam nossa alimentação com pães caseiros,comidas cozidas no fogão de lenha, doces de batata, abóbora, etc, que eram plantados no quintal e sua caracteristica principal era ser feitos com muito amor. Sucos de uvaia, limão, laranja, da mesma origem completavam nossa refeição.
Na escola utilizavamos uniformes confeccionados em casa e não me consta que nossa alfabetização pelo Caminho Suave, tabuada, linguagem, aritmética, notas por ordem etc, não tenha nos tornado adultos vencedores. Einsten, os Curie, Freud, Oswaldo Cruz, Bach, muitos presidentes, inventores, cientistas que trouxeram grandes progressos para a humanidade, estudaram assim.
Com isso não quero dizer que com os atuais avanços da ciência, informática,da medicina, educação etc, não tenhamos adquiridos novas capacidades e tempo para inovações espetaculares,
mas sim que o sistema antigo teve seu charme deixando-nos uma dose de irresistível nostalgia.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

SONHO

O sonho no seu aspécto normal, ou no derivado, apavorante, o pesadelo, pode ser apresentado em seu sentido substantivo ou no abstrato.
No sentido abstrato o sonho é aquilo que se almeja conseguir, algo até certo ponto ilusório, como sonhar ganhar sozinho a mega-sena e o pesadelo é ver o Timão novamente na segunda divisão.
Em minha monografia do término de meu curso de especialização de Didática para o Ensino Superior utilizei o sonho como metáfora na frase dedicatória " Para quem ousa sonhar nada é impossível".
O sonho nesse sentido já foi objeto de obras literária como no famoso " O feijão e o sonho" de Origenes Lessa em que a personagem principal um burocrata, procura fugir de seu dia a dia monótono e insípido, divagando sobre grandes realizações que gostaria de fazer, levando assim uma vida de ilusão, para desilusão de sua esposa, que de pés no chão queria ver mais feijão na mesa.
Já o sonho em seu sentido normal, como uma fase do sono, foi estudado e esmiuçado de todas as maneiras por médicos, analistas, psiquiatras, poetas, escritores e leigos.
Tempos atrás, foi moda a interpretação de sonhos e raro era o jornal ou revista que não tinha sua coluna especializada, pronta a analisar os sonhos de seus ávidos e crédulos consulentes.Havia inclusive programas de rádio e mesmo da televisão que dramatizavam os sonhos dos ouvintes e ofereciam suas interpretações. Na ocasião o ibope era altíssimo, e se rivalizava com as novelas da época.
Para o pai da psicanálise, Sigimund Freud, a análise dos sonhos tinha fator preponderante em seus tratamentos e para o mesmo trazia uma conotação sexual.
Para se levar uma vida sadia é necessário dormir,sendo o sono o chamado alimento da alma. O sono diário passa por várias fases sendo que o sonho pode ser considerado a principal.
Nosso cérebro é composto por inúmeras células nervosas ligadas por todo o corpo.
Os ritmos cerebrais são medidos em ciclos por segundo. Existem quatro categorias principais de rítmos cerebrais: Beta, Alfa, Teta e Delta.
Quando estamos acordados, em plena atividade de nossos cinco sentidos estamos em estado Beta.
Toda noite quando dormimos as atividades cerebrais mudam de frequencia diminuindo seu rítmo para Alfa, depois para Teta, Delta, seguindo depois o sentido inverso.
O sonho vem quando estamos em Alfa, aprofundando-se em Teta, passando para Delta quando estamos em sono muito profundo.
Geralmente sonhamos aquilo que nos chamou atenção durante o dia e que guardamos no sub-consciente. Dormindo estamos relaxados e esses acontecimentos afloram em nossos sonhos.
Muitas vezes fatos passados, escondidos em partes remotas de nossa mente entram em nossos sonhos e quando acordamos não vemos conexão com o que sonhamos. Freud argumentava que principalmente nos adultos, muito do que sonhamos tem conotação sexual.
Toda sua teoria está descrita em sua famosa obra" Interpretação dos Sonhos".
Como toda pessoa, sonho muito e muitas vezes ao acordar acho-os tão interessantes que gostaria de ter um papel ao lado da cama para registrá-los, já que a tendência é nos esquecermos rapidamente dos mesmos. Alguns em meu entender são muito criativos e parecem verdadeiros roteiros de filmes.
O que me inspirou a escrever este artigo ocorreu recentemente e me lembro que acordei rindo.
Foi mais ou menos o seguinte:
Estava eu trabalhando numa empresa, que acredito ser uma paraestatal ( na vida real, trabalhei em várias), quando me deparei sobre uma mesa com uma série de prospéctos acerca da transposição do rio São Francisco. Esse prospécto anunciava que haveria na empresa uma apresentação no auditório sobre esse assunto, o qual me interessei e resolví assisti-la.
Na cena seguinte me ví sentado entre outros participantes, com um amigo de longa data, com o qual nos últimos anos tenho tido encontros casuais e esporádicos.
Trata-se de um Gerente de Recursos Humanos e Professor Universitário chamado Arthur Luloian. A última vez que o ví foi há cerca de oito meses, casualmente no Conjunto Nacional.
Na palestra estavamos sentados, lado a lado.
A apresentadora da palestra esta uma senhora nordestina, funcionária de alguma autarquia governamental, que utilizava um daqueles antigos quadro-negros para expor o tema e ia escrevendo tal como uma daquelas professoras antigas, as áreas e hierarquias dos diversos setores que formavam o processo de engenharia e administração dos responsáveis pelas obras da transposição do Rio São Francisco.
Com seu sotaque carregado, ia falando e escrevendo no quadro negro. Nós participantes anotavamos o que ia sendo inserido no quadro.
Tal como acontecia quando estávamos no primário, às vezes, a claridade impedia de entendermos o que estava escrito e recorriamos à palestrante para esclarecer a questão.
Ora era eu, ora Arthur.
Minha dúvida culminante foi quando numa relação de nomes de um chefe de setor, de uma área da empresa, perguntei à palestrante o nome do ilustre personagem.
Recebí a seguinte resposta.É Lavucio do Nascimento, ao que ela complementou:
Íh, agora estou em dúvida, não sei se é Lavucio ou Lavurcio, vou ter de consultar.
Nesse instante acordei e rí, não somente pelo sonho estapafúrdio, como também pela dúvida da palestrante nordestina e pelo costume de nossos irmãos do nordeste de dar nomes tão hilários a seus filhos.

















terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A HISTÓRIA DA HUMANIDADE CONTADA PELOS VÍRUS

Por muito tempo tive o Dr. Dráusio Varela como único médico escritor que com uma linguagem acessível aos leigos, aborda temas de grande interêsse e assim elucida importantes temas de sua profissão para seus àvidos leitores, interessados na matéria.
Lendo agora a obra recém lançada pela Editora Contexto, "A História da Humanidade contada pelos vírus", me surpreendo com o Dr. Stefan Cunha Uivari que com um texto claro, instigante e preciso consegue empolgar com um assunto em geral inacessível aos leigos e pouco aprofundados em assuntos de medicina.
Por coincidência ou não nesta obra Dr. Stefan segue o estilo do "best seller" , "Uma breve história do mundo" de Geoffrey Blainey, cuja narrativa empolgante nos relata a trajetória física e evolutiva de nosso planeta.
Assim aprendemos o desenrolar da terra desde milhões de anos atrás passando pela várias eras até o momento atual. Demonstra como os continentes foram se separando, o aparecimento dos mares e oceanos com o derretimento das geleiras e o surgimento pelas primeiras manifestações de vida em suas várias espécies.
Blayney põe por terra a teoria do Criacionismo e nos demonstra de forma insofismável o aparecimento dos primeiros vegetais e os animais de constituição mais simples, unicelulares até os gigantescos animais pré-históricos. Mostra o apogeu e o desaparecimento de inúmeras espécies.
Na trilha de Darwin demonstra a evolução dos primatas que se derivam para o chipanzés e os homídeos, os quais são o antecessores dos chamados homo sapiens que evoluiram para a atual raça humana.
Saindo do continente africano os homens pré-historicos, nômades, na procura de alimentos
foram se transferindo para os outros continentes através de embarcações rudimentares ou cruzando passagens físicas como o Estreito de Bering, passando a povoar assim todos os atuais continentes.
Stefan em sua inestimável obra conta história semelhante através dos vírus, bactérias, parasitas e outros microrganismos.
Assim nos demonstra ser a África o continente de origem das primeiras epidemias e como os primeiros vírus foram se transformando e aos poucos se inserindo nos gens da raça humana, a origem conjunta de algumas moléstias como o herpes a HPV, o aparecimento da tosse nos ancestrais humanos.
Mostra como esses microorganismos foram migrando através do continentes; vírus que ficam ocultos durante milênios e a origem da sífilis e da hepatite.
Num capítulo demonstra como a agricultura levou a desseminação de inúmeras doenças e como a domesticação de animais foi um fator que muito contribuiu para a propagação de epidemias e doenças.
Fala sobre a ascenção e queda da varíola, a anatomia da gripe, das várias pestes, do flagelo do tifo, da tuberculose que dizimou milhões de vidas, das idas e vindas da dengue, e do avanço oculto da ebola.
Aprendemos como a indústria química alemã contribuiu para o combate de várias moléstias que ceifaram inúmeras vidas, possibilitando o vertiginoso aumento da população mundial, porém como pecaram quando utilizaram seres humanos para o crimonoso estudo da evolução da lepra o que ocasionou a morte horrível e degradante de um número enorme de inocentes.
Enfim, quis traçar neste breve artigo um aperitivo desta importante obra, não só para os profissionais da área como principalmente para leigos, pois o autor com sua escrita acessível a todos consegue prender nossa atenção do início ao fim do livro.
A se destacar o exaustivo trabalho de pesquisa que Stefan executou para a confecção de sua obra, pois foram consultados 422 autores, dos quais mais de 95% estrangeiros o que demonstra o cuidado para o preparo dessa obra definitiva.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

WELTON CARLOS DE CASTRO

Welton era uma daquelas pessoas que se destacavam em quaisquer grupos em que estava presente. Comunicativo e carismático, logo fazia amigos e grangeava simpatia geral.
Meu primeiro contato com ele se deu no longínquo ano de 1965 quando prestavamos vestibular para o curso de direito na Universidade Mackenzie.
Durante as provas, Welton logo se fez notado por ser falante e estar sempre otimista. Assim, foi com grande satisfação que constatamos que entre os calouros aprovados ele estava, inclusive em nossa turma A.
Extrovertido, Welton foi logo se enturmando e se instalou no bloco do fundão da sala e eu mais caxias, perto da fila do gargarejo. Garoto "isperto" Welton logo ficou conhecido como Carioca, e assim o chamamos pela vida afora.
O destino nos aproximou ainda mais, já no início do curso quando um colega de turma, Manoel Raposo, nos convidou para trabalharmos no Banco da Bahia, onde exercia o cargo de Gerente Administrativo.
Ali fomos, eu, Juraci, Lucas, Luiz Schmidt na Sucursal São Paulo, Toi na Agência Taboão e Welton e Marcio Cypriano ( hoje presidente do Bradesco) na Agência Augusta.
Em 1972 com a incorporação do Banco da Bahia pelo Bradesco esse grupo infelizmente se separou, e somente nos reencontramos alguns anos mais tarde.
Quando cursavamos o quarto ano a faculdade autorizou a formação de um coral e Welton logo ingressou e se tornou um dos membros mais entusiastas do mesmo. Por ocasião de nossa formatura o coral conseguiu como comemoração uma série de apresentações na Europa e Welton
com sua competência empreendedora foi o principal responsável pelo sucesso dessa excursão tendo conseguido número expressivo de adesões a essa viagem.
Nesse evento coroou um momento marcante de sua vida casando-se e tendo a viagem como inesquecível lua de mel.
Infelizmente por razões de trabalho não pude participatar desse final glorioso de nosso curso, fato que lamento até hoje.
Nos primeiros anos de profissão cada um seguiu sua vida e por uns tempos deixamos de nos encontrar inclusíve por que fui prestar meus serviços em outro estado.
Por volta de 1980 retornei a São Paulo e participando de um congresso sobre Direito do Trabalho tive a grata satisfação de encontrar Welton como um dos presentes, o qual estava trabalhando salvo engano na Fundacentro e assim retornamos nossos contatos.
Soube então que periodicamente eram organizados encontros com colegas da turma de Centenário Mackenzista e Welton se encarregou de me convocar para esses encontros festivos.
Participei de vários, geralmente numa pizzaria ao lado do Friday`s, no final da Jucelino e nessas ocasiões Welton era o agrutinador principal das mesmas pos seu espírito festivo e amigo.
Noutras, como num sítio em Itu, e num restaurante em Higienópolis por razões de saúde em família num pude comparecer, para minha decepção.
Nesse ínterim tivemos vários encontros pessoais, alguns ocasionais, sempre que no último a cerca de um ano, Welton me falou com muito orgulho de sua realização familiar mencionando a satisfação com seu casal de filhos encaminhados profissional e afetivamente.
Para minha dolorosa surpresa há menos de três meses lendo um exemplar do Estado de São Paulo, da véspera ví com olhos céticos e marejados o anúncio da missa de sétimo dia do Dr. Welton Carlos de Castro.
Com dificuldade para acreditar o que lia, já que a imagem de Welton sempre jovial e alegre não condizia com a realidade, entrei em contato com sua esposa a qual me confirmou a infausta notícia. Infelizmente meu contato com os colegas Mackenzistas era ele e assim num pude despedir-me pessoalmente do amigo. Faço-o por este despretencioso mas sincero escrito.
Welton padeceu de pertinaz moléstia que celeremente ceifou sua alegria e de seus familiares e amigos e deixou nos que o conheceram, uma enorme saudade.
Por certo, hoje está num lugar merecedor por seus atos em vida e imagino que já um lidera um grupo de amigos, que antes de nós foram cursar um pós-graduação no Paraiso como os inesquecíveis Rui Amadio, Rafael Lopes, Tarek, Rosa, Celso, Vicente e outros, tendo no corpo docente os saudosos Professores Viana de Morais, Pinto Antunes, Barbosa, Genésio, Loureiro Junior, Cid, Benevides, Darci, Ulisses Guimarães...