sábado, 29 de maio de 2010

Era uma vez a Rádio Clube ...

O ano de 1939, em que nascí, foi palco de importantes acontecimentos, uns funestos para a humanidade, como a deflagração da segunda guerra mundial, com conseqüências terríveis e outros importantes e positivos, principalmente para São Manuel, como o início das atividades de nosso hospital e da entrada no ar da Rádio Clube de São Manuel, hoje essa jovem de 70 anos.

Para minha satisfação, a família Ragazzi teve razoável participação na história da antiga PRI6, já que meu pai, Américo e meu tio Vitorino participaram da comissão que conseguiu os direitos de instalação da emissora em nossa cidade, como atesta a foto da primeira diretoria, onde seus membros demonstram todo seu orgulho.

Seu primeiro executivo que comandou por alguns anos o destino da rádio foi o Sr. Vitorino Ribeiro e como locutor principal foi contratado um locutor de fora, com experiência em outras rádios do interior, o Sr. Feitosa.

O horário de transmissão era motivo de festa para os felizes proprietários dos poucos aparelhos receptores existentes na cidade. Naquela época o possuidor de aparelho receptor tinha que registrá-lo e era obrigado a pagar uma taxa anual que era recolhida na agência do correio...

Trabalhando no Pastifício Ragazzi, que tinha suas instalações na Rua XV de Novembro, defronte ao Jardim Municipal, meu pai costumava visitar as cidades vizinhas para vender os produtos produzidos pela indústria.

Numa delas, Barra Bonita, costumava fazer suas refeições numa pensão de propriedade de um casal de italianos e sua numerosa prole cuidava dos trabalhos correspondentes. Era a família de José Saglieti que, algum tempo depois, transferiu-se para São Manuel , radicando-se na propriedade da Rua Coronel Simões, em cujo quintal estava instalada a torre de transmissão da rádio.

Nossos contatos com a família Saglieti eram muito estreitos, já que éramos vizinhos e o velho José foi um segundo “nono” para mim.

Com a saída do Sr. Vitorino Ribeiro e do Sr. Feitosa, o filho do Sr. Saglieti, Lino José, foi convidado a assumir a direção da emissora e o fez com muito êxito por muitos anos, como é de conhecimento geral.

Na trajetória da antiga PRI6 passaram vários locutores sendo que alguns se sobressaíram mais tarde,em importantes rádios , jornais e depois TVs, da capital. Citamos alguns que a memória nos permitiu, Lamartine Vilela ( Rádio Bandeirantes), Aurélio Belloti ( (Fundação Casper Libero e Gazeta Esportiva), Ewaldo de Almeida Pinto( TV Paulista), Colaço (TV Paulista). A dupla “Coração do Brasil,” Tonico e Tinoco, que por muitos anos comandou o famoso programa “ Na Beira da Cuia” na Rádio Bandeirantes.

Além dos citados,importantes locutores se destacaram por largos períodos como Wilno de Arruda Pinheiro, Julinho Bernardinetti, Irineu Ferreira, Amando Saglietti, Alberto Santarém Junior, Carlos Alberto Marquesi, etc, sob o comando do já emérito Professor Lino José Saglieti.

No inícío da década de 50 um programa esportivo vespertino fazia grande sucesso e tinha enorme audiência. Foi o ápice da Associação Atlética Sãomanuelense que vinha de sucesso no futebol profissional , além de outra agremiação de destaque, o Bandeirante. Depois surgiram o Palmeiras, São Paulo, Jim da Serra, América,etc.
São Manuel também se sobressaia no bola ao cesto ( como era chamado na época), no volei, atletismo, ciclismo. Era a grande fase dos Jogos Abertos da Alta Sorocabana. Daí o interesse dos ouvintes nesse programa.

Por essa ocasião, meu pai começou a escrever crônicas, enaltecendo os grandes feitos de nosso esporte e a homenagear os mais valorosos jogadores e atletas de nossa cidade, principalmente os mais antigos e quase esquecidos, desde os idos de 1925, quando se radicou em São Manuel. Essas crônicas se denominavam “ Recordando o Passado” e marcaram época nas tardes da I6 e mais tarde, passaram a ser reproduzidas em jornais de São Manuel e cidades vizinhas. Esse estilo de crônicas foi imortalizado pelo grande Fiori Gigliotti que nas tardes de domingo nos brindava com emocionantes relatos, denominados “Cantinho da Saudade”, pelas ondas da Rádio Bandeirantes.

Meu irmão Nildo, começou suas atividades de locução no Cine Paratodos, o qual antes e ao término de suas sessões divulgava suas próximas programações, entremeadas de músicas que se tornaram marcantes como Barril de Chopp ( preferida do proprietário, o saudoso Benjamin Augusto), In the Mood ( O Edmundo, na versão da iniciante Elsa Soares), Moonlight Serenade, etc.

Convidado pelo Professor Lino, passou a integrar o quadro de locutores da PRI6, juntamente com dois outros novos contratados, Carlos Silvio Correia e Hamilton Nicola Maffei.

Meus primeiros contatos com o microfone ocorreram nas eleições da URBE, União Rui Barbosa Estudantil, que era o grêmio do Colégio Estadual e Escola Normal “ Dr. Manuel José Chaves” e consistiam em ler textos enaltecendo as virtudes dos candidatos de determinada facção, tipo “Vote em ... que elevará a URBE aos píncaros da glória”.

No início do segundo semestre de 1955, com 15 anos, quando cursava o primeiro ano do curso científico, fui convidado pelo Professor Lino, meu mestre de Português, a trabalhar na Rádio Clube. Aceitei imediatamente,logo estava aprendendo os macetes na rádio e no Serviço de Alto-Falantes Bandeirantes (Uma empresa para o Servir). Este funcionava no Jardim Municipal e além de anúncios e jingles transmitia os hits da ocasião,para a turma que fazia o “footing” e onde a paquera imperava. Servia também para os corinthianos, palmeirenses e sãopaulinos tirarem o sarro, uns dos outros, conforme os resultados dos jogos. Era o “ Time perna de pau” dedicado a quem estava de cabeça inchada.

Quem me ensinou os segredos iniciais foi o Oscar Guilherme Unzer e todos os dias das 19 ás 20,30 horas, religiosamente assumia o microfone e procurava imitar meu ídolo da época, o locutor da Rádio Record, o grande Geraldo José de Almeida, (muita pretensão...)

Lembro-me do mês de dezembro de 1955 quando o serviço de auto-falantes funcionava desde a tarde e o grande sucesso da ocasião eram músicas de um jovem cantor cego, Ray Charles, principalmente, “Stela by starlight”.O ano de 1939, em que nascí, foi palco de importantes acontecimentos, uns funestos para a humanidade, como a deflagração da segunda guerra mundial, com conseqüências terríveis e outros importantes e positivos, principalmente para São Manuel, como o início das atividades de nosso hospital e da entrada no ar da Rádio Clube de São Manuel, hoje essa jovem de 70 anos.
Para minha satisfação, a família Ragazzi teve razoável participação na história da antiga PRI6, já que meu pai, Américo e meu tio Vitorino participaram da comissão que conseguiu os direitos de instalação da emissora em nossa cidade, como atesta a foto da primeira diretoria, onde seus membros demonstram todo seu orgulho.
Seu primeiro executivo que comandou por alguns anos o destino da rádio foi o Sr. Vitorino Ribeiro e como locutor principal foi contratado um locutor de fora, com experiência em outras rádios do interior, o Sr. Feitosa.
O horário de transmissão era motivo de festa para os felizes proprietários dos poucos aparelhos receptores existentes na cidade. Naquela época o possuidor de aparelho receptor tinha que registrá-lo e era obrigado a pagar uma taxa anual que era recolhida na agência do correio...
Trabalhando no Pastifício Ragazzi, que tinha suas instalações na Rua XV de Novembro, defronte ao Jardim Municipal, meu pai costumava visitar as cidades vizinhas para vender os produtos produzidos pela indústria.
Numa delas, Barra Bonita, costumava fazer suas refeições numa pensão de propriedade de um casal de italianos e sua numerosa prole cuidava dos trabalhos correspondentes. Era a família de José Saglieti que, algum tempo depois, transferiu-se para São Manuel , radicando-se na propriedade da Rua Coronel Simões, em cujo quintal estava instalada a torre de transmissão da rádio.
Nossos contatos com a família Saglieti eram muito estreitos, já que éramos vizinhos e o velho José foi um segundo “nono” para mim.
Com a saída do Sr. Vitorino Ribeiro e do Sr. Feitosa, o filho do Sr. Saglieti, Lino José, foi convidado a assumir a direção da emissora e o fez com muito êxito por muitos anos, como é de conhecimento geral.
Na trajetória da antiga PRI6 passaram vários locutores sendo que alguns se sobressaíram mais tarde,em importantes rádios , jornais e depois TVs, da capital. Citamos alguns que a memória nos permitiu, Lamartine Vilela ( Rádio Bandeirantes), Aurélio Belloti ( (Fundação Casper Libero e Gazeta Esportiva), Ewaldo de Almeida Pinto( TV Paulista), Colaço (TV Paulista). A dupla “Coração do Brasil,” Tonico e Tinoco, que por muitos anos comandou o famoso programa “ Na Beira da Cuia” na Rádio Bandeirantes.
Além dos citados,importantes locutores se destacaram por largos períodos como Wilno de Arruda Pinheiro, Julinho Bernardinetti, Irineu Ferreira, Amando Saglietti, Alberto Santarém Junior, Carlos Alberto Marquesi, etc, sob o comando do já emérito Professor Lino José Saglieti.
No inícío da década de 50 um programa esportivo vespertino fazia grande sucesso e tinha enorme audiência. Foi o ápice da Associação Atlética Sãomanuelense que vinha de sucesso no futebol profissional , além de outra agremiação de destaque, o Bandeirante. Depois surgiram o Palmeiras, São Paulo, Jim da Serra, América,etc.
São Manuel também se sobressaia no bola ao cesto ( como era chamado na época), no volei, atletismo, ciclismo. Era a grande fase dos Jogos Abertos da Alta Sorocabana. Daí o interesse dos ouvintes nesse programa.
Por essa ocasião, meu pai começou a escrever crônicas, enaltecendo os grandes feitos de nosso esporte e a homenagear os mais valorosos jogadores e atletas de nossa cidade, principalmente os mais antigos e quase esquecidos, desde os idos de 1925, quando se radicou em São Manuel. Essas crônicas se denominavam “ Recordando o Passado” e marcaram época nas tardes da I6 e mais tarde, passaram a ser reproduzidas em jornais de São Manuel e cidades vizinhas. Esse estilo de crônicas foi imortalizado pelo grande Fiori Gigliotti que nas tardes de domingo nos brindava com emocionantes relatos, denominados “Cantinho da Saudade”, pelas ondas da Rádio Bandeirantes.
Meu irmão Nildo, começou suas atividades de locução no Cine Paratodos, o qual antes e ao término de suas sessões divulgava suas próximas programações, entremeadas de músicas que se tornaram marcantes como Barril de Chopp ( preferida do proprietário, o saudoso Benjamin Augusto), In the Mood ( O Edmundo, na versão da iniciante Elsa Soares), Moonlight Serenade, etc.
Convidado pelo Professor Lino, passou a integrar o quadro de locutores da PRI6, juntamente com dois outros novos contratados, Carlos Silvio Correia e Hamilton Nicola Maffei.
Meus primeiros contatos com o microfone ocorreram nas eleições da URBE, União Rui Barbosa Estudantil, que era o grêmio do Colégio Estadual e Escola Normal “ Dr. Manuel José Chaves” e consistiam em ler textos enaltecendo as virtudes dos candidatos de determinada facção, tipo “Vote em ... que elevará a URBE aos píncaros da glória”.
No início do segundo semestre de 1955, com 15 anos, quando cursava o primeiro ano do curso científico, fui convidado pelo Professor Lino, meu mestre de Português, a trabalhar na Rádio Clube. Aceitei imediatamente,logo estava aprendendo os macetes na rádio e no Serviço de Alto-Falantes Bandeirantes (Uma empresa para o Servir). Este funcionava no Jardim Municipal e além de anúncios e jingles transmitia os hits da ocasião,para a turma que fazia o “footing” e onde a paquera imperava. Servia também para os corinthianos, palmeirenses e sãopaulinos tirarem o sarro, uns dos outros, conforme os resultados dos jogos. Era o “ Time perna de pau” dedicado a quem estava de cabeça inchada.
Quem me ensinou os segredos iniciais foi o Oscar Guilherme Unzer e todos os dias das 19 ás 20,30 horas, religiosamente assumia o microfone e procurava imitar meu ídolo da época, o locutor da Rádio Record, o grande Geraldo José de Almeida, (muita pretensão...)

Lembro-me do mês de dezembro de 1955 quando o serviço de auto-falantes funcionava desde a tarde e o grande sucesso da ocasião eram músicas de um jovem cantor cego, Ray Charles, principalmente, “Stela by starlight”.

Na rádio o locutor exercia também as funções de técnico, já que comandava quadro de pratos de discos, geralmente bolachas de 78 rotações, o som, um prato de jingles e um botão, do “ao soar o gongo serão precisamente...” Alguns jingles ficaram retidos em minha memória:

“Em casa ou no trabalho,
no campo rua ou no esporte,
só se usam as calças far-west...), ou das modernas, Alpargatas Roda...
Na rádio os principais locutores eram o Alberto Santarém Junior: comandava os Sociais onde diariamente lia com grande sentimento uma poesia, um Cantinho para Você – uma página feita para sua sensibilidade. Em suas raras ausências os demais locutores torciam para não serem escalados, já que ninguém ousava substituir o mestre.

Outro expoente da 16 era o Carlito Marquesi, que mais tarde dirigiu também a rádio. Carlito fez o ginásio comigo e se destacou sendo o presidente da comissão de formatura e orador da turma. Nossa paraninfa foi a querida Professora Ana Lima Garófalo.

Além dos locutores citados e o do Oscar, faziam também parte do quadro, Mário Ferraz e o Henrique Massarelli.

Os principais programas eram: Ritmos de Uncle Sam, Organize seu Programa, Sociais, A Hora da Ave Maria, o Esportivo e principalmente, o Música para Você. Era moda se dedicar músicas aos aniversariantes, nos casamentos, formaturas, etc, e o programa tomava as tardes manuelinas. Aos domingos prevaleciam as músicas dedicadas pelos moradores da zona rural e tome música caipira. Naquela época havia determinado preconceito da turma da cidade, que preferia músicas internacionais, ou de cantores como Nelson Gonçalves, Francisco Alves, Carlos Galhardo,Orlando Silva, Silvio Caldas, ás modinhas de viola.

Para os locutores era um castigo ser escalado para os domingos á tarde, pois no mesmo horário, geralmente no Estádio “Dr. Adhemar Pereira de Barros”, se realizavam jogos de futebol, tão aguardados por toda a cidade.

A rádio estava instalada na Rua Moraes Gordo e aos domingos pela manhã era transmitido concorrido programa de auditório sob o comando do Carlito. Os acompanhantes principais eram Dona Irides Canela, ao piano e Péricles, no violão. As atrações principais eram a família Tirapelli, Sr. José (Marichiaro), Ivo,Nilza, Wilson, Lalau e seu cavaquinho, a dupla caipira infantil Rochinha e Denga, o conjunto “Os Anjos” de Barra Bonita, etc.

Menção especial ao Durval (o Durva), discotecário da emissora, conhecia a localização de cada disco, corinthiano de um grande coração e irmão mais jovem do Sr. Lino.

Nos serviços gerais, minha homenagem ao casal Frederico.

Uma das maiores emoções de minha vida foi quando recebí das mãos do Professor Lino uma nota de 50 cruzeiros que correspondia ao meu primeiro cachê, dinheiro recebido como recompensa de meu trabalho. Inesquecível.

Infelizmente, no dia 5 de janeiro de 1956 minha família se transferiu para São Paulo, em busca de novas oportunidades profissionais e educacionais e eu desliguei-me da querida PRI6 “Rádio Clube de São Manuel, a “ Voz de um Município de São Paulo nos Céus de Imenso Brasil” e só me restou uma enorme saudade.
Hoje amenizada pela Clube Regional, liberada aos sãomanuelenses por esse mundo afora, pelo milagre da Internet.

Nilson José Ragazzi
São Paulo – 9 de maio de 2010